e com a palavra...

Claudinha negligencia povão e toma vaia histórica na Barra

Essa notícia parece meio deslocada (e é, pois aconteceu durante o carnaval... quase no ano passado), mas lá vai...


Exatamente às 22h30 da noite desta sexta-feira, 4, enquanto o asfalto do circuito Dodô (Barra-Ondina) fervilhava por baixo dos tênis ensopados de cerveja, chuva e suor dos foliões de toda parte do planeta, a banda e o encanto da loira mais sapeca da Bahia tomavam conta, podia-se dizer até que dominavam a massa entorpecida naquela região de Salvador. Mas este relato não está ainda de acordo com verdade. Não totalmente.

Claudinha abusou do poder olímpico que lhe é conferido cada vez que desafia o céu naquele caminhão anabolizado chamado Trio Elétrico. Na segunda metade do trajeto, que compreende desde o Farol da Barra até as praias calmas e de águas quentes de Ondina, mais especificamente no trecho conhecido como “Morro do Gato”, ainda na Barra, a loira apostou alto em seu carisma e caiu do cavalo.

Enquanto dedicava todo seu encanto -indiscutível-, para o badalado e milionário camarote da cerveja Skol, a cantora foi “diva” demais e perdeu o controle de seu rebanho. A começar pelo ato falho de trocar o nome da panicat Nicole Bahls pelo de Dani Bolina. Mas até aí tudo bem. Para a maioria da população tanto faz saber ou não o nome daquelas moças de corpos esculturais, contanto que elas se mantenham saltitantes e com pouca roupa.

Mas, de algum modo, este lapso que poderia ser cometido por qualquer um, ainda mais por alguém que havia puxado um bloco por mais de 3 horas, mexeu com a moça. Talvez tentando se desculpar pelo engano, Cláudia cometeu a gafe definitiva: quebrando o protocolo “obrigatório” informal dos artistas que passam pelo “Morro do Gato”, ela desprezou a massa cansada, suada e descamisada do lado pobre da rua em favor das pessoas do citado camarote. Foi a conta.


Vaias no atacado

Ao término da última música na passarela do nicho da cervejaria Cláudia retornou ao trio e tentou puxar mais um sucesso quando, de um pequeno camarote situado bem em frente, o Via Folia, a moça escutou os primeiros apupos. E a coisa tomou conta da multidão. Parecia que a menina tinha cometido a grande heresia de sua vida. Mas Claudinha desprezou também o poder contagiante de uma vaia e tratou a coisa como fato isolado. Errou de novo, e feio.

A “pipoca”, já revoltada com a falta de carinho por parte da moça que não voltou os olhos para o lado feio e pobre da Barra por um instante sequer, repercutiu a vaia. A desgraça estava feita. Cláudia, talvez ainda sem acreditar apelou para o truque mais antigo dos puxadores de trio de Soterópolis:

- Cadê a torcida do meu Bahia? Disse ela.
- Aêee! Respondeu a massa de cá.

E então se ouviram os primeiros versos do hino tricolor. A fera popular parecia domada. Qual nada. Bastou a primeira estrofe acabar e a galera já agia como torcida organizada a escarnecer um adversário figadal.

- uhhh! E mais:
- Ivete! Ivete! Ivete!

Foi a gota!


Batalha perdida

A menina tinha perdido o rebolado. Agora era fogo contra fogo e ela possuía um arsenal de respeito. A cada tom elevado pelas vaias sua banda aumentava a intensidade da música que, àquela altura não se sabia mais qual era. Em um dado momento, até o hino do Vitória foi usado para tentar acalmar os ânimos e nada. O povo queria sangue. E teve.

A menina estava acuada. Ora vaiavam, ora chamavam por sua colega de profissão, ora utilizavam os dois artifícios em conjunto. O trio seguiu em alta velocidade e sumiu na primeira curva. De longe ainda se ouviam os repiques dos percussionistas que a esta hora já deviam estar com as palmas das mãos em carne viva de tanto estapear as peles dos tambores.

Vale lembrar que, cerca de uma hora antes, Ivete Sangalo, que agora era aclamada em missa de corpo ausente, havia parado por cerca de vinte minutos no local, claro que aí entra o mercado publicitário e a guerra das marcas de bebidas, mas o fato é que a moça dispensou carinhos para o povo e esse retribuiu apaixonado. Coisa que grandes, médios e descartáveis artistas fazem há anos e que repetiram essa noite, nem sempre por amor, mas por sabedoria e esperteza. Eles sabem de onde vem sua fama e para quem devem ser dedicadas as canções.

(Artigo inicialmente publicado no Diga, Salvador)

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