e com a palavra...

O adeus de Ronaldo


Confira a trajetória do craque dentro e fora dos gramados

O Ronaldo, jogador excepcional, despediu-se dos campos há pouco mais de cinco anos. Pelo menos o seu futebol se despediu nessa época. O homem que entrou em campo, já desacreditado, nos gramados alemães em 2006 já não era o mesmo atleta de anos anteriores. Tampouco era o símbolo da superação humana que estapeou o mundo (eu, inclusive) com luvas de pelica com a surpreendente recuperação durante a copa do oriente (Coreia e Japão).

Na coletiva de ontem (14) o que se viu foi a despedida de seu último esforço para se manter em uma zona de conforto que, segundo o ex-treinador Carlos Alberto Parreira, “ele necessita para viver!”. Segundo o ex-técnico da seleção, Ronaldo precisa ser acarinhado e paparicado o tempo todo para estar feliz. Quem não precisa né?

Em seu discurso de ‘despedida’, o astro culpou um determinado problema de saúde (hipotireoidismo), uma enfermidade que segundo o jogador não poderia ser tratada com ele em atividade, porque se trataria de doping. As duas declarações foram rechaçadas no Jornal Nacional horas depois.

A 1ª por uma médica, afirmando que apenas o hipotireoidismo não seria capaz de tamanho aumento de peso. Dando a entender que se tratava mais de descuido de Ronaldo que da doença. É preciso lembrar que o jogador é conhecido por ser um glutão contumaz. Além disso, fuma e bebe com frequência.

A 2ª afirmação foi descartada por uma autoridade da medicina esportiva, que deixou claro que a substância necessária para o tratamento da enfermidade não faz parte do catálogo de medicamentos proibidos. Mas, como bom garoto-propaganda, Ronaldo conseguiu comover e convencer. E nesse mundo midiático, é o que vale. O que fica. Virou verdade.



Futebol

Desde o Campeonato Brasileiro de 1993, com a histórica atuação contra o Bahia, quando marcou 5 gols, culminando na célebre roubada de bola do goleiro uruguaio Rodolfo Rodrigues que lhe rendeu convocação para a copa dos EUA no ano seguinte, até sua melancólica despedida do futebol, o craque viveu entre crise e sucesso, como aliás, todo grande ícone.

Em ascensão meteórica, o jogador mal começou a brilhar no Cruzeiro e caiu nas graças do técnico Parreira e foi levado para a copa de 1994. Verdade que se limitou a vibrar do banco de reservas, mas a convocação e a experiência no mundial já lhe renderam um contrato milionário com o PSV da Holanda no mesmo ano, seguindo os passos do ídolo brasileiro do momento, Romário.

Ainda seguindo as pegadas do baixinho, Ronaldo foi parar no Barcelona, onde brilhou mais que todo o ouro asteca levado por Cortez da América para a Espanha. Rei da Catalunha, Ronaldo seguiu sua brilhante carreira.

Copa da França

O Brasil buscava o penta na França em 1998, tinha uma boa seleção, e com alguma facilidade (exceto na semifinal com a Holanda) conseguiu chegar à final do torneio. Ronaldo voltaria a ser o centro das atenções, só que dessa vez por um fato desagradável: horas antes da partida contra os donos da casa o jogador foi levado às pressas para um hospital em Paris. Segundo informações, até hoje truncadas, o jogador passara mal durante a noite, tendo inclusive convulsões, e não estaria em condições de jogar.

Antes da partida, com o atacante Edmundo escalado para começar jogando, Ronaldo decidiu partir para o sacrifício e pediu para entrar. A Seleção não jogou tudo que sabia e podia, além disso, os jogadores esqueceram-se do jogo e passaram a vigiar Ronaldo pelo campo. Resultado: o Brasil perdeu a copa sem esboçar qualquer reação.



Inter de Milão e o joelho

Transferido para a Internazionale de Milão Ronaldo apresentava o melhor de sua forma no, até então, maior campeonato de futebol do planeta. Fora aclamado ”Fenômeno” pela espalhafatosa imprensa italiana, vivia uma eterna lua de mel dentro e fora dos gramados quando, em uma jogada corriqueira rompeu os ligamentos do joelho. Era o fim. O craque estava acabado para o futebol. Não se falava de outra coisa.

O retorno espetacular e o inferno no Real Madrid e no Milan

Após meses de recuperação, quase por milagre, Ronaldo volta aos campos convocado pelo então técnico da seleção brasileira, Luís Felipe Scolari, e desacreditado por torcedores e imprensa do mundo inteiro, o jogador tem um desempenho extraordinário na Copa de 2002, traz o pentacampeonato e se torna, definitivamente, um mito.

Magoado com a imprensa e a torcida italiana, Ronaldinho se transfere para o Real Madrid com a moral elevada e com mais um título (o 3º) de melhor jogador do planeta na sacola.

A vida do craque em solo espanhol seguiu com altos e baixos. Bem nas primeiras temporadas, após dois anos de Espanha os problemas com o excesso de peso, as farras e as contusões selaram o destino do atacante, que se transferiu para o Milan.

De volta a Milão, só que agora pelo rubro-negro, Ronaldo não conseguiu repetir suas grandes atuações de anos anteriores. Passou mais tempo em recuperação que dentro de campo e, após 15 anos de Europa resolveu retornar ao Brasil.



Travestis e Corinthians

Em busca da antiga forma, o Fenômeno iniciou sua retomada ao futebol na Gávea, tentando junto a seu clube de coração, o Flamengo, recuperar seu futebol e prestígio. Entretanto, após se envolver em polêmica policial quando foi flagrado em um motel com 3 travestis, o jogador abandona os treinos no Rio, assina com o Corinthians, rompendo de forma irreparável com a torcida e segue sua vida.

No time paulista, que retornava honrosamente da segunda divisão, o jogador reencontrou carinho de fãs e torcedores, conquistou um campeonato paulista e uma Copa do Brasil e partiu com tudo para a Taça Libertadores da América, sonho antigo dos corintianos.



Decepção e fim de carreira

Após duas tentativas frustradas de ganhar a Libertadores, Ronaldo, Corinthians e torcida se desentendem. Com uma despedida melancólica o craque anunciou nesta segunda-feira, 14, que está deixando, definitivamente, os gramados. O eterno ídolo corintiano, Sócrates, costuma dizer que, geralmente, não é o jogador que abandona o futebol, mas o futebol que deixa o atleta. Segundo Ronaldo, seu corpo já não atendia aos comandos de seu cérebro. Então, só resta aplaudi-lo pelo esforço e parabenizá-lo pelas conquistas.

(Artigo inicialmente publicado no Diga, Salvador)

Comments :

0 comentários to “O adeus de Ronaldo”

Postar um comentário

deixe aqui sua colaboração e faça este blog valer a pena