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Monique Kessous: surpresa e delírio para ouvintes atentos e casais apaixonados



Era de se esperar que sorrisos descrentes, daqueles de canto de boca, brotassem assim que a moça com aparência de escultura em mármore subiu ao palco. Os comentários não se referiam à pequena estatura, nem a algum suposto defeito, óbvio, já que beleza não lhe faltava. A imagem era de um Elemental que se movia de um lado para o outro, como num bosque iluminado. Era, sem dúvida, um “Buonarroti” que a Providência permitiu que ganhasse vida.

A descrença aparente se dava pela suspeita de que altas e belas notas não pudessem emanar daquela criatura tão delicada. Creio que a julgaram apenas pelos timbres amenos de seu “boa noite, Salvador!”. Foi uma péssima avaliação, e só viram, com certeza, a doçura inquestionável. Enganaram-se todos, felizmente.

Bastou a carioca Monique Kessous descerrar os lábios para a paixão inundar a Arena Maurício de Nassau, no Festival de Verão de Salvador, no último sábado, 4. Uma voz límpida, enérgica e vibrante tomou conta do lugar, e sem deixar espaço para mais nada, a menina revelou-se sereia e encantou a plateia. Caminho sem volta para uma assistência atônita. Na metade da primeira música já era possível notar casais enlaçando mãos e bêbados no auge da felicidade tentando acompanhar o refrão.

Cada uma das quatro cantoras que se apresentaram naquele sábado, na Arena, teve um público diferenciado. Claro que isso se deve muito à rotatividade de um festival com tantos palcos (seis no total) e tantas alternativas. Com certeza, Monique Kessous encontrou o público mais desavisado desde que os Novos Baianos se apresentaram no Teatro Vila Velha em 1969. E saiu-se tão bem que é vergonhoso notar em seu trabalho atual que ela é assim mesmo, sublime. Fomos todos pegos de calça curta, e reclamações não serão aceitas, apenas aplausos.



O talento vem de casa


Surpresa, aliás, faz parte da vida dessa artista que, além de cantar, trata com carinho e reverência instrumentos de corda e percussão. “Prefiro não ser chamada de multi-instrumentista”, disse certa vez em um programa de TV.

Para a mãe, Shirley Shcolnik, de onde a moça herdou talento e beleza, (aliás, méritos para essa família musical, que além das moças teve a influência do pai, violonista, e conta com o talento do irmão Denny, exímio artífice das seis cordas.) como se amparada pela sempre afirmativa “Modinha para Gabriela” de Caymmi, apenas certezas. “Nossa família sempre foi ligada à música. Soube que a Monique seria talentosa desde muito cedo. A certeza veio aos nove anos, num festival de colégio, quando uma professora destacou seu talento no meio de tantos alunos”, disse feliz.

Talento comprovado, a moça, que pela primeira vez se apresentou em palcos baianos, exalava felicidade com a recepção calorosa do público. “Achei incrível tocar aqui. Estou muito encantada com todos vocês, o público foi perfeito. E essa diversidade característica da Bahia me deixou muito feliz. Estréia perfeita!”, confessou.



A intérprete e a compositora


Apesar de estar correndo o Brasil com um CD quase todo autoral, Monique Kessous não abriu mão de seu lado intérprete no Festival. Dando caras novas a canções consagradas como “Disritmia”, de Martinho da Vila, “Sonhos” de Peninha, e uma versão com bastante suingue e sensualidade para “Bloco do Prazer”, de Morais Moreira e Fausto Nilo, a menina já não confundia o público que pedia mais. E ela dava.

Sua versão cheia de intimidade para “Qual é, baiana?”, de Caetano marcou um dos momentos de êxtase do show. “Pensei com muito carinho nas versões para a apresentação de hoje. Até mesmo porque é um Festival e isso sempre dá uma animada nas pessoas. E festival precisa ser uma coisa ‘pra cima’, afinal, ninguém quer ficar o tempo todo chorando a dor de cotovelo do amor perdido”, brinca, citando um tema recorrente em suas letras.

Veja o videoclipe da canção "FRIO"

(Artigo inicialmente publicado no Diga, Salvador)

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