e com a palavra...

O ocaso da nova ‘Era Dunga’

(Não é um tratado sobre cavalaria. Talvez existam [no texto] citações acerca de cavalos, ferreiros, generais sem sorte, e outros com sorte até demais. Pena que desaprenderam a dançar, se é que um dia souberam.)


Sabe aquelas histórias épicas onde um rei, um herói ou vilão, após sofrer uma grande derrota, ou conquistar um grande triunfo, passados muitos anos, retorna para sua zona de conforto, seu país, sua casa, sua aldeia, e percebe que corre o risco de perder sua conquista anterior, ou, tem a chance de reconquistar sua honra?

Pois esta história, apesar de possuir todos esses ingredientes, trata de um anti-herói, um pária, que julgávamos adormecido, alguém a quem, depois de surgir como revelação em um esporte amado por uma nação inteira, coube a pecha de representante do fracasso. Símbolo maior da inapetência que certos seres humanos parecem possuir quando se defrontam com a chance de serem criativos.

Anos mais tarde, esse mesmo ‘vilão’ tornou a ser referência no esporte amado. Representante da raça, da resistência aguerrida de um povo sofrido. Enfim sagrou-se cavaleiro, ou melhor, campeão, em um tempo em que a ‘massa’ estava subjugada, que já via o sonho da conquista como algo distante, impossível. O povo quase que o amava agora. Era o rei, enfim!

O rei chegou ao topo da montanha. Conquistou o mundo. Mas, ao deparar-se com a chance de ser magnânimo ainda que sendo humilde, o grande herói fraquejou. Sua nação tivera, quando conquistou o mundo pela primeira vez, outro herói, também um defensor, de origem mediterrânea como o novo rei, mas que ao vencer sua última batalha beijou o solo conquistado, seu troféu. Um herói puro de coração. Um cavaleiro!

O herói de hoje, que já é ontem, limitou-se a esbravejar e vociferar insultos impronunciáveis, que nós, tolos camponeses felizes pela maldição quebrada não notamos a princípio, mas sabemos que ele praguejou contra sua própria vitória. Atirou no próprio pé. Profanou a memória de heróis anteriores, vitoriosos ou não. E o tempo passou.

Após longo sono, essa figura retorna da segurança inerente aos intocáveis, para tornar a ser exemplo de desconfiança entre os seus. Aquele homem que parecia satisfeito com sua maior vitória, agora tenta superar-se enfrentando aquilo que o fizera cair de joelhos uma vez. Luta para provar que a arte é dispensável e, que conquistar só é possível através da força, do temor, do fogo, da noite e da artilharia pesada e incessante.

Esse deus da guerra contesta uma nação sedenta por mais glórias através do martelo e da espátula do escultor, e faz anoitecer apreensivo todo um povo. A nova Era Dunga se inicia. E a todos engana, como uma bela e pestilenta dama que oscila entre a corte e o cais do porto, e que infecta seus admiradores com paixão, e dor.

O príncipe é vaidoso. Não dá espaço a contestações. E faz justamente o que todo mundo sabia, com meses de antecedência: sua teimosia o levaria à ruína. E assim foi. Está feito. Sua nação caiu. Sim, toda ela. Pois a derrota não foi apenas do soberano sem majestade e entorpecido pelo poder e pela soberba. O exército pertencia ao general, mas foi uma derrota coletiva.

E enfim, o rei caiu. Xeque-Mate! Resta esperar que outro aventureiro, oxalá um discípulo de um mestre que encantou a todos alguns anos antes, mas que não foi feliz e perdeu a chance de tornar-se vitorioso, ao menos na mesma proporção. Tudo bem. Que apareça então um louco, como o que anteviu, ainda nas eras românticas, que essa batalha se vence com astúcia e ginga, mas com muita vontade tática, não esquecendo as origens ‘poéticas’ de nosso modo peculiar de duelar.

Aceitamos até um jovem pajem que tenha audácia suficiente para enfrentar dragões e que possua um coração puro o bastante para retirar a espada, que descansará por quatro longos anos, cravada na pedra fria.

Em tempo: a Seleção comandada por Cláudio Coutinho, na Argentina, em 1978, jogava nos moldes da grande Holanda de Cruijff e Rinus Mitchel que encantou o mundo quatro anos antes, na copa da Alemanha. O Brasil terminou o torneio invicto, conquistando o terceiro lugar, ficando de fora da final após disputar um triangular que contou ainda com a participação dos donos da casa e da Laranja Mecânica (Holanda).

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