e com a palavra...

Desaforo para uma amiga que dorme


"Ah! Se ao menos ao fim dos meus passos incertos,
eu tivesse por cruz os teus braços abertos!". (Aos pés da cruz - Guilherme de Almeida)


A alma é indócil e dispersa
Cara amiga!
A alma é nossa inimiga
E a amiga mais doce
E Feroz
E pior: só notamos
Quando já é tarde!
A alma é um campeão covarde!

Dorme, ou apenas tenta.
Que no fim a brisa passa...
É verdade.
Resta uma dorzinha
Retardatária, suave
Mas, como os sinais
Das crianças, na mata...
...Perdidas...
São só migalhas!

Vem chegando aquela hora
Inevitável
De recolher as armas
De trancar bem os armários
Para ter com o que batalhar
Na guerra de amanhã.
Então, recua e descansa.
Rosa solar...
Volta pra casa!

Vem, mas vem depressa!
Vem entender o que passa
Vem para recomeçar.
Porque eu já te conhecia
Mesmo quando tua ânsia
Era uma doce criança
E teus medos
Ainda não existiam
Nem teu nome de rocha
Sempre poderosa
Nem o mar, nem o mar
Não havia
Nem o meu canto
Nem tuas asas
Não havia nada
E o mundo era frio
E sem vida
Pois não havia você

E o sono não vem
Porque você é como um sonho...
Que some de manhã...
E mora bem longe
Muito longe
Lá onde só chegam os pássaros
E os insetos de casca grossa
No cantinho escuro de tua alma
Iluminada
No casulo de pedra
De minha poesia
Que canta
Vem e me diz que
Não são palavras vazias
Que não sou letra morta
Diz que você, às vezes
Se importa
Com este poeta torto
E com sua sanidade
Equilibrista
Diz, em uma ou duas linhas
Dá ao cão farejador
Um sinal
Uma palavra
Um motivo maior que o amor
Deste poema-pista

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