e com a palavra...

Reflexo vulgar, feliz acaso!

Encontrei o meu espelho mais nítido (leia-se reflexo) em uma esquina digital dessas que têm similares em qualquer lugar nesses tempos ácidos, em eras diferentes, inclusive (vide a má sorte do bíblico rei Davi quando resolveu pegar um arzinho e deu de cara com a mulher do soldado Urias...).

Essa projeção possuía detalhes espantosamente semelhantes aos contidos no interior deste invólucro terreno que me cobre. Era o tal reflexo cuja ausência Narciso sente e repudia quando decide visitar a Paulicéia. Mas esqueçamos SP, que esta esquina é litorânea e insone como o cheiro melancólico do mar logo de manhã.

Minha epifania notívaga surpreende-se tanto quanto eu, e passa a negar o hiato que se formou a partir de sua primeira aparição. Água e mel, por favor! Molhem-nos as bocas e nos permita partir para dentro de nossa concha!

Fui encontrado por meu reflexo a caminho de casa. Não era sombra nem sonho, parecia comigo e era meu oposto, mesmo não me reconhecendo de imediato. Mas era doce e irrequieta, e tinha um brilho novo nos olhos. E a música que escorria de seus dedos ecoava por toda a esquina digital.

Zumbiu na orelha quando alcançou o céu e voou para longe de minhas palavras frias e de uma vaga lembrança. Sou eu a imagem refletida no azul profundo. Eu vi o outro lado do tempo naqueles olhos e os meus também molharam. A perfeita união entre corda e pescoço passeia agora além dos tijolos amarelos, mas reluz de longe. Ouro, ouro, ouro!

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