e com a palavra...

Os desacreditados da equipe de 1987


O time do Flamengo de 2010, com a base mantida e ampliada da equipe que conquistou o Hexa, em dezembro de 2009, é considerado, por especialistas e corneteiros, um dos elencos mais consistentes do país. Se grandes vitórias elevam o ego às alturas, o que dizer da estrutura emocional de um time que acabou de ganhar o certame mais desejado e importante da nação?

Pois, este elenco vitorioso, além de presentear a torcida com partidas memoráveis, consegue ainda causar discussões em mesa de bar, do tipo: fulano, de hoje, joga igual ou melhor que aquele outro do time do Zico? Sem contar que, está para nascer equipe com tamanha competência em fornecer matéria-prima para as revistas de fofoca. Mas, voltemos ao futebol.

Outro dia, ouvi uma declaração do competente lateral Leonardo Moura, sobre sua atuação no time, em comparação a Leandro, o mais celebrado dono da camisa dois na Gávea em toda sua história. Leonardo não concordou com a opinião do técnico atual e meia contemporâneo de Leandro , Andrade, que, não sei se com intenção de amenizar sua (do Léo) soberba, ou apenas expor uma verdade inegável, disse que, apesar do talento comprovado, o Moura não joga nem metade do que jogava sua sombra histórica.

Mas, é quase impossível falar de grandes elencos rubro-negros sem citar, com bastante respeito, a equipe tetracampeã brasileira, em 1987. O time dos velhinhos. Os fantásticos e desacreditados reis do Rio. Era fim de safra na Gávea. Mas eles não sabiam disso.

O elenco supercampeão no início da década de 1980 foi praticamente desfeito. Mas, entre os veteranos e as jovens promessas, o Mengo se mantinha de pé, talvez amparado no título estadual conquistado no ano anterior, comemorando o retorno do rei – Arthur Antunes Coimbra, o Zico, à nossa estimada Camelot.

A equipe que se sagrou tetracampeã era uma arma tão clara quanto eram os guerreiros do hexa. Apenas os adversários não enxergaram a tempo. Posso até apostar que, nos últimos vinte anos, nenhum elenco que compôs qualquer seleção nacional – incluindo as equipes que levantaram o caneco do tetra e do pentacampeonato mundial -, possuía tamanho equilíbrio, nem jogadores tão comprometidos e cientes de seu dever, e de seu posicionamento em campo.

A esquadra – O eficiente Zé Carlos (o Zé Grandão), era pura segurança no arco rubro-negro. Aos 25 anos, o goleiro não tinha medo de cara feia, e já havia retirado do bom e veterano Cantareli, mais uma oportunidade de ser titular. Sem contar que Zé era presença constante nas convocações da seleção brasileira.

Seguro, veloz, preciso e mortal. Esses eram os cartões de visita de Jorginho. O jovem lateral tanto mostrou suas qualidades, que o mestre Leandro, optando pela zaga central, cedeu-lhe a posição e a mítica ‘2’. Léo, mais um para por na tua conta. Vai para a fila.

Leandro era o dono da zaga central, por opção, e pela impossibilidade, diante de tantas contusões, de fazer o Maraca louvá-lo a cada investida contra o gol adversário. A partir de então, o rei da defesa rubro-negra esbanjou e distribuiu talento na pequena faixa de campo que separa a linha de fundo da meia-lua da grande área.

A quarta zaga do time era um feudo do ex-tricolor Edinho Nazaré que, quando cansado ou machucado, cedia espaço para mais um guerreiro técnico da Gávea – Aldair. O jovem zagueiro fez, pelo curto período em que defendeu o Mengo, a torcida segurar a dor pela venda de Mozer.

O versátil Leonardo comandava a equipe a partir da lateral esquerda. Jovem e impetuoso, a cria prodigiosa dos celeiros rubro-negros mostrava, a cada partida, que um lateral pode atuar próximo à zaga, marcar bem, apoiar como poucos, sem dar chutão, ou viver somente da velocidade.

O mestre Andrade flutuava em campo tal qual pluma no céu das tardes domingueiras. Desde o grande Carlinhos, a Gávea não via tamanha elegância naquele escalado para ser o xerife, o primeiro homem a ser batido antes de a zaga ser acionada. O que, geralmente, não acontecia.

O meia Aílton, peça importante e regular do elenco, marcava muito bem, apoiava com velocidade e finalizava com habilidade, sem comprometer nenhuma das ações em detrimento da outra.

Zico –
Bem, o Zico era, é, e sempre será o Zico. E fez o que sabia melhor – brilhou -, e fez os críticos engolirem as palavras adversas que ousavam sussurrar a cada partida extraordinária.

O 'motor' Zinho era a máquina de correr daquele time. Técnico e rápido, Crizan tornava viável qualquer lançamento em profundidade que o Sr. Antunes executava. Falso meia, falso ponta-esquerda, e mestre dos dribles curtos e das arrancadas inesperadas. Até que o Parreira (o Falcão lançou a idéia) resolveu achar que de volante ele atuaria melhor.

O ataque –
O bloco ofensivo criado pelo técnico Carlinhos era quase infalível. Praticamente o time inteiro sabia atacar, e bem. Ninguém dava chutão, ninguém rifava a bola. Ela era muito bem tratada naquele ano bom.

O menu era variado: Bebeto e Renato Gaúcho - titulares absolutos -, além de Júlio César e o veterano Nunes, no banco. Velocidade, explosão, precisão nos chutes e a total falta de medo diante dos defensores do outro lado do campo. A equipe não se acanhava em chutar a gol, e a cada tento marcado a sede de mais um era prontamente saciada com jogadas preciosas e inesquecíveis.

Assim caíram os grandes do futebol tupiniquim, aos pés dos velhinhos e dos meninos da Gávea. Esperamos por muito tempo para ver formada outra equipe comparável. Ainda não a vejo, confesso. Mas, acho que o Flamengo de hoje pode chegar a ser inesquecível também. Por enquanto, Léo, meu filho, menos badalação e mais futebol. Quem sabe teu nome e sua imagem não se tornam imortais como os títulos que ajudou a conquistar. Portanto, vamos ao jogo!

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