e com a palavra...

Ascensão


O céu, de um vermelho intenso,
Insano, crepuscular,
Olha-me
Como se fosse um predador
Que perdera o alimento,
Ou, como se visse,
Pela primeira vez,
O mar,
Devorando-o longamente.

E, se por um breve momento
Notasse o sol tocar as águas,
Sentindo, de longe, expirar
A leve sensação de paz
Que me envolvia
Talvez eu pudesse cantar as boas-novas,
Insurgindo como raios
De sol, num rompante de alegria.

Seria só luz, o toque suave
Da satisfação exorcizando o mau tempo que,
Antes, inexorável,
Nos golpeava a face, empurrando-nos goela abaixo
Névoa e sombras, súplicas e asco.

E, se num momento de azar
Eu alcançasse
O quarto andar da melancolia e pairassem
Sobre mim, as trevas, o descontrole
E a agonia, talvez
Meu sistema entrasse em curto,
Talvez o céu desprezasse
O crepúsculo, que, redentor,
Sepulta, finaliza o dia.

Cai a noite e o insano me olha
Como se eu fosse um barco, que,
Sem norte, vaga sobre as águas bêbadas
Do outono
Sol posto e calafrios no circo
Da mentira rompem o casco
Deixando-me à deriva, sem sol,
À luz do abandono.

Passam as horas, as pernas fraquejam,
Tanto medo
Na medida em que retorna ao chão
O ascensor, o louco festeja.
Uma oração!
Clamo em segredo, em busca de lucidez,
Sol, luz e Calor.

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