e com a palavra...

Pisando em rastro de corno


Hoje, definitivamente, não foi um daqueles dias que pretendo relembrar. Nem mesmo quando minha fala estiver entrecortada por estertores. A começar pela ideia insana de atravessar a famigerada, embora necessária e obrigatória, Avenida Paralela às 06h30. Nem vá, papá, que é suicídio!

Tentar chegar a qualquer lugar, em horário de pico, passando por aquela ‘via crucis cabocla’ é dose para apagão em Itaipu. Seria melhor entregar a cabeça ao carrasco na porta de casa que enfrentar isso todo dia. Pois é o meu itinerário... de sempre.

Na faculdade, de manhã, péssima matinê sem ter dormido nem um pouco. E mais: quem é que consegue assistir aula depois de 2 horas gratinando na Paralela? Ainda recebo de brinde, a pecha de enrolado preguiçoso. Nem dormi esta noite para colocar os trabalhos em ordem. Querem mais o que? Que reinvente a roda? Chupa aqui pra ver se sai caldo de cana!


A manhã transcorreu sutil como um elefante estabanado numa loja de cristais. De cara, joguei 40 paus na latrina. Ok, não literalmente, mas quando se compra uma merda que não funciona como deveria e você não é doido de voltar para trocar porque o local é totalmente insalubre e de vizinhança nada aprazível, sim, você tacou seus dois micos-leões-dourados na boca de lobo, sem dó nem piedade, cuspe ou vaselina, quiçá um maledicente punhado de areia - da fina, faz favor. Deu para sentir o cheiro do ralo.

Escatologia à parte, parece que sou o único soteropolitano que ainda se perde nesta cidade-labirinto. Após deixar o bairro da Barra, conheci parte do pequeno universo daquela área. Salvador é uma cidade muito desigual mesmo, e tenta se esconder atrás de arranha-céus.

Pura maquiagem, e a idílica Barra, antiga Vila do Pereira, legado do donatário real Francisco Pereira Coutinho não é exceção. A beleza natural convive com os vícios modernos: o consumo, a desvalorização do ser humano e a desvirtualização total dos valores. Por favor, não quero adotar uma postura moralista, mas, ta F*.

Ah, quase que esquecia. O local inóspito da compra malsucedida foi esse, ‘pertim’ do Farol. E o produto, antes que pensem bobagens, era um eletroeletrônico oferecido, de repente, e por uma micro parcela do que vale, aliás merda não deveria custar tanto mesmo.


Eu fico por aqui, com um olho no PC e outro na Paralela, que se apresenta aparentemente inofensiva por uma gretinha da janela do escritório. Esperando a boa hora de ir, pedindo a Deus, aos deuses e à deusa [ops, e ao "Ruivo Herring"], que me encaminhem em paz para casa, e que eu não volte a pisar, mesmo sem conhecimento prévio, em rastro de corno. Vade retro!

!MiF?

Entrevista - Luciene Lessa Andrade



Nesta entrevista, a Mestra em educação fala sobre sua experiência como coordenadora de um grupo de pesquisas, especialmente sobre o trabalho ‘Cine Consciência’, que buscava despertar o autoconhecimento acerca dos valores éticos tão escassos na sociedade atual. Suas armas? Um grupo de alunas de psicologia, uma escola pública disposta a colaborar e alguns filmes cuja temática ajudou a reforçar essa idéia.


Eduardo Santos - Sua intenção principal foi analisar o desenvolvimento e o despertar da consciência humana através da utilização de filmes.
Luciene Lessa: “Isso, fui professora de uma disciplina chamada Etologia, que faz um estudo comparativo do comportamento, e coordenava um grupo de estudos formado por estudantes de psicologia (do 3º ao 6º semestre). Alguns desses estudantes se interessaram pelo tema “desenvolvimento da consciência”, então discutimos e ‘bolamos’ um projeto que visava aplicar filmes, elaborando grupos focais com estudantes do ensino médio de escolas públicas“.
E.S. - Como se dá, na prática, este desenvolvimento?
L.L. -“A princípio, selecionamos alguns filmes que tivessem a temática de desenvolvimento de algumas qualidades como: amizade, solidariedade, cuidado com o meio ambiente... que, de alguma forma, expressassem a consciência, para consigo mesmo, nas suas relações com os outros e nas suas relações com o meio. A partir da seleção dos filmes, assistimos, elaboramos questionários, cujo direcionamento se dava na base de: ‘o que você entendeu? ’, ‘qual a mensagem central do filme? ’, ‘pra você esse filme é interessante no desenvolvimento dos valores humanos? ’. Assistíamos aos filmes e selecionávamos os que se encaixavam em nossa proposta de desenvolvimento. Os estudantes tinham, no questionário, um espaço para opiniões pessoais acerca da moral do filme, se, para eles, cada filme poderia contribuir para desenvolver determinadas qualidades (virtudes) nas escolas. Chamamos isto de ‘consciência’. Diferente do conceito dado pelas correntes psicológicas, que vêem consciência como o oposto à inconsciência. Tratávamos de consciência no sentido de desenvolver um autoconhecimento para a autotransformação. Fugindo da visão comum às correntes psicológicas”.
E.S. - O que se esperava?
L.L - “Nossa intenção em desenvolver a pesquisa foi por conta dos graves problemas que ocorriam e ainda acontecem, relatados o tempo inteiro, sobretudo no período da adolescência, onde não vemos a ESCOLA trabalhando no sentido de direcionar (o alunado) para a auto-observação, observação aos seus próprios atos, um direcionamento. Por que o adolescente já é grande o bastante para estar sozinho nos lugares, mas, ainda é imaturo para assumir seus atos na mesma proporção. Então, o que se esperava era, a partir desses filmes pré-selecionados (quanto à temática), para poder auxiliar os estabelecimentos de ensino, oferecendo alguma possibilidade pesquisada, cientificamente direcionada para este fim”.
E.S. – Houve algum tipo de preparação para os alunos antes das apresentações?
L.L - “Quando a seleção foi realizada, fomos à escola (Luiz Viana, Brotas) e falamos da proposta. A princípio, pensávamos em 15 estudantes, mas, selecionamos apenas 10, e no fim, restaram oito. Solicitamos a concordância dos responsáveis, através de um termo de responsabilidade. Trabalhamos às quintas-feiras, duas horas durante à tarde, apresentávamos os filmes e aplicávamos os questionários”. “Não tivemos problema algum para implantar o programa. Ficamos muito espantados quando fomos apresentar a proposta na escola e aplicamos o questionário inicial, perguntando o que se entendia por consciência, e eles tinham a idéia de que, só havia consciência se tivesse alguém controlando. Algo como: ‘a consciência depende de alguém olhando, vigiando’. Isso espantou. Aplicamos as perguntas a três turmas (7ª e 8ª séries), que lotaram o refeitório da escola. Distribuímos cerca de 130 questionários. E, ao responderem perguntas como: consciência lembra o que, você acha que tem consciência, do que precisa se ter consciência, eles deixaram claro que ‘ quem age com consciência é porque sabe que tem alguém vigiando’, que, sem este controle, ninguém tem consciência. Isso respondeu a maioria. Que só se age com consciência quando há possibilidade de perder alguma coisa”.
E.S. – Esta visão ‘consciência X vigilância’ foi abordada no trabalho?
L.L. - “Não. Esta visão acabou sendo a das pessoas que não ficaram para o decorrer da pesquisa. Quem ficou é porque acreditava na proposta. Que é importante ter valores, saber como quer agir e ser visto pelos seus pares. Esta percepção distorcida do que é um ato consciente foi do geral”.
E.S. – Porque o público infanto-juvenil?
L.L. - “Escolhemos esta faixa etária (entre 15 e 16 anos) por conta dos relatos da complicação que está em conseguir conter, observe que não estamos mais falando de desenvolver valores, mas conter o ímpeto desses adolescentes neste contexto social atual. Onde tudo é questionado: os valores da família, os valores da sociedade, os valores da escola, quais são os limites da escola, até onde a família deve ir, onde começa o dever da escola. Não propusemos a idéia da polarização entre certo e errado, embora, ao tratar com os adolescentes, logo de início, eles ainda partem dessa idéia do certo e errado, que é uma coisa muito pré-adolescente de que existe o certo e existe o errado. Que alguns optam pelo errado e outros optam pelo certo, como se isso fosse possível. Nossa intenção, neste momento, não era buscar uma re-educação (educar a ação do homem, direcionada a alguma coisa). Queríamos, na verdade, perceber como eles ‘se percebiam’ e quais os filmes que achavam interessantes. Lembro que ‘reclamaram’ sobre ‘ O jardim secreto’, com algo do tipo: ‘ô pró, este não. É muito infantil’. Quando exibimos ‘Meu nome é radio’ acharam as cenas muito fortes. Era isso que buscávamos: que eles se implicassem neste processo, de estarem em uma escola, trabalhando com o desenvolvimento da consciência. Nossa intenção não era aplicar ‘terapia de choque’, nem ‘educar ninguém’. Era que eles se envolvessem. Por que, tudo que vem de fora ‘é muito importante’, ‘muito interessante’. Enquanto você mantém este trabalho, ele desenvolve, e sabíamos que não iríamos fazer um trabalho perene em uma escola. O que queríamos era ofertar uma proposta que a própria escola pudesse se interessar, comprar os filmes e depois desenvolver com seus estudantes uma análise crítica.
E.S. – Como os adolescentes reagiram à proposta?
L.L. - “Os estudantes lidaram muito bem com a proposta. Houve um episódio muito significativo durante o período da pesquisa: a polícia foi chamada para resolver um problema de envolvimento de estudantes com o tráfico e os alunos disseram: ‘ta muito complicada a situação. Este mundo que a gente ta pensando, este desenvolvimento da consciência está longe da realidade que existe aqui agora’. Mas eles reconheceram que este seria um passo. ‘não adianta a gente botar a polícia fora e dentro da escola! ’, disseram. Isto de nada adianta se as pessoas que se afinam com propostas de viver uma vida de uma forma um pouco mais equilibrada não se engajarem nesses novos direcionamentos. Chegamos, inclusive, a conversar com a diretora que informou que existe, na escola, uma verba que o governo dá para organização de salas de vídeo (projeção de filmes), e que este trabalho poderia continuar. Que ela queria reativar este trabalho na escola”.
E.S. - Na apresentação do trabalho vocês falam em: “triagem de filmes (ESPECÍFICOS), adequados aos sujeitos da pesquisa”. Como funciona isso?
L.L - “Referia-se à idade deles. Não queríamos filmes ‘bobos’ nem algo de maior profundidade. A intenção era passar alguma mensagem, mínima que fosse”.
E.S. – De imediato, quais os resultados obtidos?
L.L. - “Ficamos muito surpresos com o comprometimento deles e com sua percepção da realidade. É muito claro para eles o fato de estarem em uma determinada realidade e de que querem sair dali. Não vêem possibilidade de desenvolver algo que possa transformar isso. Não só transformar individualmente, mas eles acham que o sistema ’Escola Pública’ não está nem preparado nem interessado. Acham que os professores são vítimas, que a diretoria não tem como atuar, que o nível de criminalidade, de insatisfação com a vida invadiu COMPLETAMENTE a sala de aula. Então, eles vêem na escola uma saída desta realidade. Apesar de concordarem em assistir aos filmes, aderirem à nossa visão de trabalhar isto voltado para a escola, não têm esperança que aquela realidade mude. Quando questionados sobre a existência de pessoas na escola interessadas na continuidade deste trabalho, disseram: ‘ com certeza, existem alguns interessados em desenvolver, inclusive até encabeçar um trabalho semelhante’. Mas, ressaltavam: ‘para quem já demonstra querer algo diferente talvez nem seja necessário, seria necessário algo para quem está no vandalismo – quem não quer assistir aula, quem está atrapalhando, quebrando vidraças, trabalhando para o tráfico que está no entorno’”.
E.S. - O que se espera da aplicação deste método em larga escala e com maior duração?
L.L. - “Foi uma mostra pequena (apenas oito filmes) conseguimos formar oito grupos focais, que é um numero interessante dentro de uma metodologia qualitativa de pesquisa, então, deu para interagir bastante, tanto que os meninos já estavam ‘bem soltos’, interagindo com a equipe. Creio que se continuássemos este trabalho por mais tempo, e, fizéssemos um grupo piloto em uma escola, com a aplicação desses filmes para diversas séries, acho que teríamos de captar qual o nível de aceitação. Seria alguma coisa a ser feita. Porque o que percebemos é a estratégia de contenção – colocar polícia na porta e dentro das escolas públicas – sem uma prevenção ou o desenvolvimento da consciência individual para o desenvolvimento de valores e sustentar estes valores, que era o que desejávamos”.
E.S. - Vocês trabalharam com a “visão”, o conceito de consciência de determinados autores. Mas, existiu uma corrente principal? Um “norte”, aquele que “propôs” uma idéia mais compatível com o que vocês queriam comprovar? Quem?
L.L. - “A equipe trabalhou, individualmente com ‘ a consciência na obra de alguns pensadores, e incluímos autores que tratam do tema, como: Carl Rogers; Jung; Skinner (Burrhus Frederic); e Abraham Maslow, que foi quem mais se aproximou de nossas intenções. Rogers contribuiu com um lado humanista bem consistente, mas utilizamos outros clássicos para entender e diferenciar do que queríamos, como: Edgar Mórin, Robert Wright – autor de um livro interessantíssimo, ‘O animal moral’”.
E.S. - O que é este animal moral?
L.L. – “Wright trabalha uma perspectiva, bastante crítica, por sinal, de que a consciência é a faculdade superior, que diferencia o ser humano dos outros seres vivos. Para ele, estaríamos no topo da cadeia evolutiva por conta da nossa consciência e não pelos atributos físicos, fisiológicos e biológicos. Ele trabalha com questões do desenvolvimento da autoconsciência para a ação. O mais interessante deste ‘Animal Moral’, é que Wright teve acesso aos rascunhos de Darwin. Então sua análise é toda em cima da obra de Darwin. De muita coisa, e relaciona primeiro, como que a questão familiar influenciou na produção científica de Darwin; como que a percepção cultural da época e seus valores (de Darwin) influíram nesta obra. E, trouxemos para nossa pesquisa, a importância de um trabalho como este, mostrando que, se você trabalha com o indivíduo, com a auto-percepção, o individuo percebendo que é produto do meio, e também (principalmente) produtor, e mais, quando este percebe o que está produzindo para este meio, existe muito mais possibilidades de ele dar um salto [consciente] para onde ele quer. Daí, se ele quiser ir por em qualquer direção e possui consciência dessa direção ele vai estar muito mais cônscio do que está construindo para a vida dele”.
E.S. – Vocês conduziram o estudo dentro daquele contexto social familiar aos adolescentes, correto?
L.L - “A pesquisa foi toda voltada para a realidade deles. Um filme como ‘Quatro amigas e um jeans viajante, por exemplo, possuía problemas muito corriqueiros, tanto casos relativos a romances na adolescência, quanto a pais separados, complicações de relacionamentos com estes pais’. Tudo dentro do universo real. Com ‘Meu nome é rádio’, eles traziam muito, durante a discussão, situações onde foram vítimas de algum tipo de preconceito, ou quando agiam com este mesmo preconceito para com os outros. No início eles não se colocavam tanto, mas, a partir do quarto, quinto filme, eles se soltavam mais, mostrando que os filmes poderiam ser capazes de mobilizar esta autoconsciência”.
E.S. – Os resultados mostraram que com aqueles adolescentes a pesquisa se encerraria ali e se partiria para outros estudantes, ou seria possível continuar com estes e ir, aos poucos, agregando mais jovens?
L.L - “Poderíamos aplicar as duas situações. Poderíamos buscar algo mais complexo para estes e começar do zero com outros. O trabalho com filmes é muito interessante porque, naquelas duas horas você se transporta para outra realidade. De alguma forma, você se coloca nesta realidade, no lugar do outro. Muito do trabalho de psicodrama, de Moreno, trabalha com esta transferência do ser humano para o que ele está assistindo”.
E.S. – Como funciona?
L.L. - – “Se trabalha no reconhecimento daquilo que a pessoa traz. A pessoa se submete a trabalhar com dramas (peças, atos de peças, casos), onde você compartilha sua experiência agindo como um personagem. Depois você retorna à sua realidade e descreve como foi agir dentro desta perspectiva”.
E.S.- O que te leva a crer que este procedimento seja algo que mereça ser adotado? Os filmes são atrativos óbvios, mas qual a melhor maneira de incluir esta proposta nos currículos escolares?
L.L. - “Em nosso caso, primeiro se discutiu o produto a ser utilizado. Se usaríamos musicas, peças teatrais, ou filmes. Optamos por este último, pois era mais acessível. As escolas, por mais carentes que sejam, possuem algum tipo de projetor, mesmo que seja um videocassete. Acho que as escolas deveriam trabalhar com este ou outro produto. O que estiver mais à mão. O que não se admite é que a escola se exima dessa responsabilidade, de trabalhar com o ser humano no sentido de ele desenvolver essa auto-percepção. Questionar: ‘que tipo de ser humano você é? Você está fazendo no mundo aquilo que quer encontrar nele? ‘. Fica esse jogo de empurra e ninguém assume a responsabilidade, nem os pais nem a escola. Eu não diria, também, que os adolescentes são vítimas, mas, eles estão no meio de uma situação muito complicada. Eles não têm capacidade (leia-se maturidade) de assumir as conseqüências dos seus atos. As famílias tentam assumir e a coisa se complica. E a coisa se agrava quando o estudante acha que só vai encontrar algo melhor quando ele sair daquela realidade. E isso é muito preocupante. Eles querem o que a TV mostra como ‘bonito’. Acham que o bom é consumir, então busca alternativas mais rápidas de chegar a isso. O ‘ser’ fica encoberto, totalmente, pelo ‘ter’ – se eu tenho, eu sou, mas, se não tenho... E isso é complicado. Por isso achamos que este trabalho com os filmes de mensagens positivas seria contributivo”.
E.S. – Para você, como deveria se dar a ‘ sedução’ do aluno desinteressado para este tipo de projeto?
L.L. - “A escola deve, a partir do momento em que pensa essa realidade, buscar soluções. A exibição dos filmes já atrai por si só, mas a escola precisa ser muito criativa e conhecer o seu público. Agir de acordo com o meio em que atua. De repente essa agregação pode vir através de campeonatos desportivos e palestras sobre assuntos compatíveis ao tema. Discutir comportamento. Os jovens têm uma percepção muito clara do lugar onde querem viver, e essa realidade que vimos não é o ideal deles. Embora não saibam como sair dali, eles sabem que ali não está nada bem”.
E.S. - Em determinado momento vocês falam que: “A consciência para estes jovens está relacionada com a conduta moral do homem”. Isso é usado para ilustrar o que disse Karen Sasaki, que entende a consciência como sendo um ‘fenômeno social humano’. Poderia falar mais sobre o assunto?
L.L. - “Sasaki discute a consciência como sendo um atributo moral do ser humano, e nosso grupo se afinou muito com esta perspectiva. A construção de uma sociedade depende do individuo. Você tem os valores individuais, que são frutos de uma história do ser humano”.
E.S. - "A consciência quando despertada em grau significativo no ser humano, ajuda-o a eleger valores éticos e morais, no mínimo elevados". Partindo desta frase de Maribel Barreto, em sua opinião, qual o principal benefício social deste trabalho? Onde a sociedade ganha?
L.L. - “A sociedade ganha a perspectiva de mais uma possibilidade de construção do ser humano. É uma maneira de identificar, no ambiente escolar, possibilidades de desenvolver esta auto-observação. A consciência dos valores morais e éticos que sustentam o ser humano. Pensando nisso a longo prazo os resultados seriam extraordinários. Melhor seria começar com crianças em menor idade ainda. A proposta é permitir a auto-suficiência da escola. Então, o projeto está aí, criem outros roteiros, apliquem os filmes, DE ACORDO COM SUA REALIDADE, e vejam o resultado”.
E.S. – Considerações finais.
L.L. -“Mais até que para os alunos participantes, foi a contribuição para o grupo (as estudantes de psicologia). O nível de comprometimento com os valores morais e éticos das pesquisadoras ficou muito mais firmado. São profissionais que vão trabalhar com o estudo da psique humana com um aporte muito mais firme em relação ao desenvolvimento e manutenção destes valores e poder sustentar ações conscientes e equilibradas. Foi um trabalho muito gratificante”.

Acompanhe a matéria completa em breve em: http://www.na.fib.br/infonline

Dados do projeto:
- Título: DESENVOLVIMENTO DA CONSCIENCIA COM A UTILIZAÇÃO DE FILMES
Os filmes:
• PATCH ADAMS – Tema: o cuidado com as pessoas (humanismo na área de saúde)
• O JARDIM SECRETO – Tema: amizade
• MEU NOME É RÁDIO – Tema: discriminação
• QUATRO AMIGAS E UM JEANS VIAJANTE - Tema: amizade,
• À PROCURA DA FELICIDADE – Tema: persistência e esperança
• A CORRENTE DO BEM – Tema: proposta individual, cada um fazer sua contribuição (a consciência individual)
• Querido Frankie - Tema: a importância da verdade
• De repente 30 - Tema: Causa e efeito (o que se planta, colhe)


Pesquisadoras envolvidas:

• Luciene Lessa Andrade - Orientadora
• Keilane Porto
• Caroline Paraguassú
• Talita Mac-Allister
• Aiala Corrêa

Esta pesquisa foi apresentada no 2º semestre de 2008 durante o IIIº Simpósio Nacional sobre Consciência.
Obs: O IV Simpósio Nacional sobre Consciência e o I Simpósio Nacional Infanto-juvenil sobre Consciência, promovidos pela Fundação Ocidemnte - Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais, ocorrerão simultaneamente e se constituem em um momento oportuno para, até onde é possível, ampliar-se as análises sobre a Consciência numa perspectiva de evidenciar que “A Consciência é isto”. (Fonte: http://www.simposioconsciencia.com.br/index.php)
O evento ocorrerá em Salvador nos dias 12 e 16 de dezembro de 2009

Toca, Raul!


Não, ele não era o diabo. Apesar de, segundo a sabedoria popular, o antagonista divino não possuir beleza semelhante à sua fama ou sequer às suas representações pictóricas. Mas esse baiano ilustre e maldito possuía e (ainda possui, porque não?) todas as qualidades para assumir a paternidade, tanto legal quanto simbólica, do rock brasileiro.
Pode não ter sido seu divulgador inicial, mas, foi quem melhor disseminou seu espírito livre e atestou sua perenidade nestas bandas. Ele deu os toques. Configurou essa máquina complexa, apesar dos seus três ou quatro riffs habituais.
Raul foi o extrato mais puro desse gênero musical, social e estético na terra dos papagaios. Foi ao trono mesmo que tardiamente, pois ainda passeia livre e vivo na mente de seus fiéis discípulos.
Não é difícil ver conjuntos por aí, recém saídos das garagens, dos playgrounds, dos cueiros, se dizerem inovadores. Precursores de determinado movimento. Responsáveis por misturar uma coisa com outra.
Ora, não foi Raulzito quem primeiro uniu o baião de Luís Gonzaga com o rockabilly de Elvis e Little Richards? E mostrou que o brega e o blues são almas gêmeas?
A esses engenheiros da obra alheia só vale aplicar um conselho do Sr. Seixas, pois ainda há tempo de tomar o rumo certo e a famosa vergonha na cara: não pare na pista, é muito cedo pra você se acostumar...

Balão de oxigênio (uma estante velha, vinis, livros e uma vaga lembrança da infância)


Outro dia estava realocando os livros e outros objetos na estante do quarto. Mudando de lugar para melhorar a vista, mexer um pouco na paisagem. Fiquei um tanto surpreso ao encontrar entre meus vinis uma coleção quase completa da Turma do Balão Mágico (sim, vinis e balão Mágico, isso além de acusar a idade de alguém demonstra que, além de ‘velho’ o cara foi uma dessas crianças que travavam – e creio que ainda o fazem hoje em dia – verdadeiras batalhas com os pais por um objeto ‘da moda’. Quase sempre vencendo a tal guerra. Minha mãe é uma santa!
Vinis tudo bem, não me causaram espanto por serem VINIS. Os amo até hoje, mas surpreendi-me ao lembrar que sabia de cor todas as letras daquele grupelho infantil. As principais formações e lembrava até do clipe onde a menininha (tá, era a Simony, eu lembro, confesso!) aparecia banguela e cheia de sardas.
Perdi muito tempo entre as recordações e a arrumação da estante atrasou. Vale lembrar que o referido móvel ainda carece de preciosos títulos. O consolo vem de uma frase (não sei o autor) reproduzida por uma professora certa vez: não se apresse, pois você nunca lerá todos os livros do mundo, nem se tentar com afinco. É verdade, mas tentar é uma ótima terapia.
E a coleção de discos sofreu uma baixa muito sentida há algum tempo, graças a um impiedoso ataque de cupins (detalhe: eles detonaram as capas, mas conseguiram, com isso, estragar os discos). Talvez eles não curtissem Beatles, Plebe Rude ou Novos Baianos. Vai ver só gostavam do Balão Mágico mesmo, soube que eles não vivem muito, a não ser que a rainha... bem , não vem ao caso agora. Também é possível considerar o contrário. Às vezes tentamos (vez ou outra até conseguimos) devorar aquilo (ou quem) que amamos.
Dos livros, apesar de me queixar sempre da falta de alguns essenciais, devo dizer que a fila da leitura ainda ocupa um andar (prateleira) inteiro. Vinte e quatro horas não têm sido suficiente para a chuva de informação que este mundo tosco e belo oferece – jornal (impresso e on-line), revistas, textos obrigatórios (e às vezes chatos) da faculdade, o noticiário esportivo essencial, meus livros de interesse pessoal e os de cunho profissional – e ainda perder umas horinhas dormindo. Aliás, aí está uma coisa que deveria ser opcional – o sono.
Enfim...
Ainda bem que, entre uma recordação e outra ainda posso sentar na poltrona, segurar uma xícara de café e ouvir o Brian Setzer dedilhar suavemente na guitarra os primeiros acordes da quase perfeita “I won’t stand in your way”. E felizmente não preciso, como ele, chegar ao ponto de finalizar com “anymore”. Pelo menos não enquanto os dias da agulha do toca-discos não chegarem ao fim.

Sobre RT ( re - tweet = resposta a um tweet)

Fragmento extraído do blog "dicas blogger", texto de Juliana Sardinha, do dia 17 de Junho de 2009.

No texto a autora explica o que é re-tweet contando um caso (um mal entendido, mas já explicado) de um asunto levantado por uma amiga, ao qual houve a necessidade do uso deste recurso.

"O motivo deste post é para explicar melhor aos novatos as funções do RT ( ou re-tweet ) e também para alertar os veteranos sobre possíveis mal-entendidos(...)."

"Cada vez que escrevemos algo no Twitter, estamos twittando ( ou tuitando, tanto faz). Um post lá é chamado de Tweet, então um RT é um re-tweet. Quando achamos algo interessante, relevante, engraçado, super fofo e etc, re-tuitamos para que os nossos seguidores também possam ter acesso àquela informação, já que os usuários normais e que não usam scripts não seguem todo mundo. É uma forma também gentil de passar uma notícia pra frente, mantendo os devidos créditos. "

Em determinado ponto, Juliana alerta:

"Um cuidado que devemos tomar é evitar ao máximo alterar o conteúdo original na hora de re-tuitar. Outro dia notei que mudaram uma palavra chave de um tweet meu, o que alterava bastante o sentido. Abreviar sim, mudar não. Caso a gente queira e tenha espaço para isso (afinal são apenas 140 caracteres), podemos colocar em parênteses a nossa opinião."

10 Mandamentos/conselhos para uma conduta ética no jornalismo

Os 10 conselhos a seguir foram a minha contribuição para um dos trabalhos da disciplina Ética e Legislação, do curso de jornalismo da FIB, baseados no código de ética da profissão. O trabalho foi sugerido pelo professor Paulo Leandro.


1. Esteja sempre bem informado para melhor informar.
2. Seja responsável (sempre) – apure!
3. Seja fiel aos fatos - não omita nem invente!
4. Conquiste, respeite e proteja suas fontes.
5. Ouça sempre os dois lados!
6. Seja um paladino da justiça. Defenda o cidadão e dê voz aos excluídos.
7. Honre o jornalismo (ele não é escada - o jornal é veículo, mas o jornalismo não deve ser o caminho para conquistar glórias pessoais)
8. Publicar notícia segura é sua obrigação – não negocie essa informação.
9. Seja honesto – não plagie!
10. Você é um escravo do tempo, passível de erro – então admita- os e corrija – os sempre que o fizer.

Ainda somos as crianças e estamos nos dedicando





Ainda é vivo na memória o momento em que aquele disco entrou lá em casa. Era o grande disco do “cara”. Ele era o ídolo maior e espelho para uma criança ligada em música no começo da década de 1980, assim como James Brown havia sido sua inspiração vinte e poucos anos antes.
Foi uma reviravolta e tanto em minha cabeça acostumada ao samba de Alcione, ao romantismo de Roberto Carlos (influência de uma mãe e de uma tia fanáticas que não perdiam um especial de fim de ano do Rei), e aos embalos da Blitz, Cazuza, João Penca e companhia.
O balanço de Beat it e Billie Jean, o clip apavorante (eu tinha menos de seis anos!!) de Thriller, que me servia de desculpa para dormir de luz acesa eram algo novo para mim.
Eu estava acostumado com o balanço mais conhecido de Rockin' Robin, I’ll be there, ABC. Aquela chegada radical aos anos 80, com guitarras distorcidas em meio a uma batida contagiante e uma dança ainda mais esquisita que o que a gente conhecia e esperava dele marcaram minha infância.
E logo depois, com aquele passo de ‘Moonwalker’ o moço entortou a espinha de muito malandro por aqui.
Nunca entendi porque ele decidiu mudar tão radicalmente sua imagem. Aquilo foi um golpe no estomago de muito garoto negro que nele via uma constante inspiração e tinha a certeza de que poderíamos chegar ‘lá’ também.
Ele jurava que a mudança era por questões de saúde. Vá lá, mas, o cabelo e o nariz precisavam ir junto? Cara, você foi contemporâneo dos Panteras Negras! Você viu Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos, que após receberem suas medalhas, levantaram seus braços esticados com as mãos cobertas por luvas negras e punhos fechados, nas Olimpíadas de 1968, no México. Viu o Sidney Poitier quebrar a banca em Adivinhe Quem Vem Para Jantar. O que tinha dado errado?
Disseram que você estava refletindo sua infância reprimida, seu pai agressor. Não sei. Mas, seu sucesso aumentou. Você não parava de vender. Casou até com a filha do Elvis! Depois sua casa caiu. Não pretendo entrar na discussão das acusações. Não tenho esse direito e hoje não seria o dia.
Não dá para ser jovem para sempre, Peter! Nem com pó de pirlimpimpim.
Enfim, um dia as coisas acabam. E a indesejada das gentes, como Bandeira costumava chamar, vem, e aí? Será que daí onde você se encontra dá para ver a ladeira do Pelô? O Santa Marta? Neverland? O que, afinal aconteceu contigo?
Dizem que para uma estrela se apagar é preciso muito tempo. É, meu amigo, você entrou em supernova ainda em vida, muitos te seguiram, te imitaram, e sua luz vai demorar a se apagar.
Ainda somos as crianças, ainda ouvimos aquele chamado e, embora nosso dia esteja menos brilhante, há muito fizemos uma escolha e pretendemos nos dedicar para mudar as coisas.
Até mais!!

Que os deuses do futebol mostrem a sua cara




Se fosse incumbência de algum deus reger o futebol, este teria dado a vitória aos sul-africanos hoje. Não por sua dedicação em ganhar o jogo, pois isto não ocorreu.
Tentaram, antes, e com êxito por 88 minutos, frustrar a ânsia pelo gol da Seleção, que também não foi de todo ousada, e não mereceu em momento algum anterior ganhar a partida.
Seria preciso dar um castigo digno dos deuses olímpicos na Seleção, pela total falta de prumo e pelo excesso de desinteresse do time brasileiro (sim estou afirmando com isso que o Brasil tem a obrigação de atropelar qualquer adversário com tão pouco passado futebolístico e com visíveis falhas técnicas), que só acordou após o gol.
É um daqueles casos em que seria melhor eliminar as duas equipes por abusarem da atitude “antidesportiva”, para não dizer apática, de não praticar um bom futebol.
Dunga, fiel discípulo do professor Parreira, insiste ferreamente em sua multidão de marcadores inócuos e na carência absoluta de criatividade.
Para ele, que escancaradamente, prefere Maicon, o golaço de Daniel Alves, mesmo na esquerda, aliás, como já foi comum no futebol brasileiro (vide Nilton Santos, Junior e Jorginho, seu fiel escudeiro, que começou como lateral esquerdo) foi um sopapo com luva de pelica, apesar de os méritos por colocá-lo sejam dele.
Nosso treinador opta sempre pela força em detrimento do talento. Foi um crítico tenaz das seleções pré-tetra, chegando a ser indelicado e injusto com seus antecessores que tinham por pecado máximo praticar um futebol bonito de se ver.
Cabe a nós, humildes torcedores, a crítica realista e a fé de que os bons momentos do futebol arte ainda baterão à nossa porta.
Brasil na final. Se foi merecido ou não, pouco importa agora. Que venha os EUA e os deuses que nos ajude a reencontrar o bom futebol perdido entre a soberba seleção de Zagallo em 1974 e a fantástica cartola mágica do mestre Telê em 1982.

Errol Flynn




"Decadence - é melhor viver dez anos a mil que mil anos a dez" (Lobão)

No último sábado (20), Errol Leslie Thomson Flynn, ou simplesmente, Errol Flynn, um ícone da fase áurea do cinema americano, completaria seu centenário. De vida desregrada, contudo ou, por isso mesmo, intensa, este australiano de nascimento fez sucesso nas telas a partir da década de 1930 interpretando o ideal romântico dos jovens de sua época e traçando o estereotipo do herói salvador de donzelas em perigos a ser seguido pelas gerações futuras. Beberrão e mulherengo, o legado de Flynn para o mundo do cinema seriam suas performances heróicas (ele não costumava usar dublês em suas cenas de ação) e sua capacidade de viver intensamente no menor espaço de tempo possível.
Errol brindou as telas com a versão definitiva de Robin Hood, foi fantástico como o insuperável Capitão Peter Blood, e teve o prazer de contracenar nove vezes com a divina Olívia de Havilland, nada menos que seu grande amor e sua grande frustração. Ao contrário dos desfechos de seus filmes, a paixão dos dois não teve um final feliz, “devido às circunstancias (leia-se imposições) da época”, declarou Olívia. Sobre a sua ânsia de viver, Flynn confessou certa vez: “Pretendo viver a metade da minha vida. Não me importo com o resto”. É a velha história dos ícones de carreira meteórica, mas de vida efêmera. Preferem viver dez anos a mil que mil anos a dez.

Pequena e obsoleta explicação sobre nepotismo (à la Senado Federal)

O presidente da mais emblemática casa legislativa do país, José Sarney, aquele que mora, manda e desmanda no Maranhão, mas que se elege sempre pelo Amapá, disse que não sabia de nada a respeito dos atos secretos no Senado Federal, nem tampouco sobre seus parentes empregados na mesma instituição (é tanta gente que o coitado não pode, realmente, distinguir um do outro...família grande é assim mesmo)

Nepotismo:
Palavra bastante utilizada pelos povos cristãos durante a Renascença. Vem do italiano “nipote”, que significa “sobrinho”, daí se estende para toda a sorte de familiares. Isso era comum durante a regência dos ‘príncipes do Vaticano’, os Papas desse período que, quando ascendiam ao trono de Pedro, levavam consigo todos os parentes (alguns até - como o conhecido Alexandre VI, o papai e possível amante da não menos notória Lucrecia Bórgia - esposas, filhos, concubinas). Como podemos observar, o tempo passa, mas as práticas continuam as mesmas, vide os programas ‘espreme-sai sangue’ que nos são ofertados quase sempre ao meio-dia, e compare-os com o banho de sangue que os romanos aplaudiam no Coliseu. Como as edificações, a escala da sangria desatada diminuiu, mas está aí, nua e crua, em carne viva, mais viva do que nunca, assim como as práticas deveras contestáveis de nossos mandatários!

Casablanca: lágrimas, risos e uma canção sobre o tempo



“Morena dos olhos d'água, tire os seus olhos do mar, vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra lhe dar.” (Chico Buarque)

Não sei se foi a canção. Talvez a história toda, afinal, é o romance melhor narrado da história do cinema no século XX. Não. Está decidido! Foram os olhos úmidos da Srta. Lund, quando cruzaram, novamente, o olhar do Sr. Blaine, após tanto tempo, que meu deu o mais concreto conceito de felicidade.
Acho impossível rever esta cena sem, também, molhar os meus. Como não desejar, não sonhar com um reencontro desta intensidade? Dá para sentir as bocas secas, o aperto no peito e o suor frio escorrendo das mãos. Todos deveriam ter seu momento “As time goes by”. Isso deveria ser item básico na cartola de qualquer sonhador.
O capitão Renault, homem de grande sensibilidade apesar da couraça rústica que tempos e paragens hostis sempre impõe às pessoas, compreenderia. Mil vezes, se fosse necessário. O ar seco e a incerteza presente em Casablanca tornam os mortais suscetíveis a toda sorte de sentimentos.
É possível ser feliz no deserto, contanto que se possa contar com um lugar agradável e cheio de aventuras (o “Rick’s”), um pianista amigo de “copo e de cruz” (perdoe-me, Chico Buarque, pelo excesso de citações), e a visão reincidente da Ingrid Bergman sentada junto à pianola, com os olhos rasos d’água. As coisas fundamentais ainda valem, insista o tempo em passar, ou não.
Mesmo que dezembro em Casablanca significasse outro tempo em qualquer outro lugar, seria capaz de quebrar os relógios de todos os bares do mundo, se isto significasse ver a Srta. Ilsa Lund saltar porta adentro. Tentaria sorrir e não hesitaria em pedir que tocassem, ao menos mais uma vez, aquela velha canção que fala do tempo e das coisas perenes.
Talvez o melhor momento para encontrar a felicidade seja aquele em que o mundo lhe cai sobre a cabeça. Que lhe tenham tirado quase tudo, deixando apenas a esperança. Bem na hora em que todos os sonhos vestem azul e brindam às luzes que estão prestes a serem mitigadas. É aquela força que surge do sinistro surpreendendo a todos.
Para ser feliz basta abrir as janelas e deixar que o vento purifique o lugar. Deixe alguém livre, por um instante que seja, para escolher seu caminho. Não tente reviver aquele momento precioso. Ele é único! Não volta. No entanto, não o esqueça. Ele te pertence também, afinal, o que é a felicidade, senão fragmentos de vida formando um mosaico colorido ao nosso redor? Compete-nos juntar os cacos e formar nosso próprio conceito.
Sim, é isso. Foi a canção! A música adequada na hora exata. Ela sempre nos transporta a circunstâncias marcantes. Às vezes isso pode até ser embaraçoso. Acho difícil alguém conseguir reproduzir aquele instante - Ingrid Bergman lacrimosa, ou melhor, dominando as lágrimas, enquanto o Rick, lá, impassível, deixando cair a máscara amoral. Sucumbindo ao mais ingênuo e complexo dos sentimentos.
Eis o tolo mais feliz que já vi. Esta cena ilustra, definitivamente, quando o silêncio é mais “ensurdecedor” que uma multidão, em uníssono, entoando palavras de ordem. Engraçado como tanta coisa se altera, enquanto outras, nem tanto, com o passar do tempo.
Mas, costuma-se esperar por um novo dia, sempre! O mundo não pulsa sem sonhadores. A paixão alimenta o planeta, seja ela justa ou hedionda. Não nos cabe julgar. Ela diz respeito tanto ao amor quanto à guerra, e isso é tudo que nos compete saber.
O resto pertence ao canto dos pássaros e às tardes azuis e romanescas dos filmes da década de 1940. Deixa que o tempo passe. É só isso que podemos fazer – sonhar, em preto e branco, com uma noite longínqua, em um bar perdido no deserto, perto do fim do mundo.

Chuvas em Salvador prejudicam população

As chuvas que castigaram Salvador nas ultimas semanas deixaram um rastro desagradável. Houve desabamentos e deslizamentos de terra em vários pontos da capital, carros ficaram submersos e, por enquanto, a Defesa Civil informa que já contabilizou 4.721 desabrigados, cerca de mil famílias, e que quase a metade é constituída por crianças de até 15 anos. Informa também que a média de ocorrências fica por volta de nove a dez casos por dia. Não se esquecendo de mencionar que a soma das ligações informando problemas relacionados à chuva chega a 150 diários.
A população tem sido sucessivamente prejudicada pelos efeitos colaterais das mudanças climáticas. Os problemas vão desde o teste de paciência de ter que esperar até 2 horas por um ônibus, o que, geralmente, ocasiona atrasos para se chegar aos locais de trabalho e nas instituições de ensino; os congestionamentos intermináveis cada vez mais comuns na cidade; até os casos onde é colocado em risco tanto o patrimônio quanto a vida dos cidadãos.
Juliane Barbosa estuda enfermagem em uma faculdade próxima à Av. Luís Viana Filho, e enfrentou alguns problemas para conseguir chegar à aula: “como a chuva já se estendia desde a madrugada pedi carona ao meu pai, achando que seria mais fácil chegar, mas, tivemos alguns problemas com os engarrafamentos e, por pouco o nosso carro não ficou atolado naqueles rios que se formam no meio da rua. Cheguei atrasada e, graças a Deus a atividade marcada tinha sido cancelada, pois a sala não tinha nem a metade dos alunos”, conta.
Trabalhando há cerca de cinco anos em frente ao shopping Iguatemi, Jennifer Pereira dos Santos tem motivos de sobra para se preocupar. “Com o tempo assim o povo não compra nada! O movimento é quase igual, por que o pessoal que trabalha no shopping tem de vir, mas, as vendas caem e a gente fica sem trabalhar mesmo. A única vantagem é que o material (isopor com refrigerantes e cervejas e caixinha para balas e cigarros) não se perde, por ser fácil de carregar, no entanto, nada é vendido”, diz a vendedora.
A chuva, que já atrapalha, e muito, a vida dos donos de lojas, prejudica ainda mais quem não tem garantias e trabalha por conta própria. “Trabalho há mais de oito anos aqui e sempre é a mesma coisa: começa a chover e não sai mais nada. Quem me salva é o pessoal que trabalha por aqui e compra, por que já estão na área mesmo”, informa o pipoqueiro Hamilton de Almeida Lima, que atua com seu carrinho entre a prefeitura e a Câmara Municipal de Salvador. “Não tem jeito, chove e a gente tem que segurar o prejuízo. Só com o tempo bom que as coisas funcionam direito”, conclui.
Segundo nota postada no site do jornal A Tarde em 21 de maio, uma nova frente fria avança rapidamente pelo litoral da região sudeste do País e a partir desta sexta-feira (22/05) chega à Bahia. De acordo com a informação esta situação ainda pode se estender por mais sete dias.

Sobre presentes e jornalistas

Samuel Wainer, lendário jornalista e dono da “Última Hora”, em seu livro de memórias “Minha razão de viver” relatou como o “incentivo financeiro” dos empreiteiros que ergueram Brasília, no governo JK, havia se tornado um câncer para as administrações posteriores: Jânio Quadros e João Goulart, respectivamente.
De acordo com o relato de Wainer, os empresários exigiam, na base do toma-lá-dá-cá, favores especiais, exercendo acintosamente grande influência política, tanto no congresso nacional, como nos altos escalões dos citados governos. Isso, de cara demonstra a dimensão do perigo exercido por este “poder paralelo”.
Ainda segundo Wainer, estes “obséquios” perduraram ao longo das administrações que pôde acompanhar de perto (entre 1950 e 1964). Vale lembrar que o citado jornalista, por sua vez, foi agraciado com verbas do Banco do Brasil, (certo que se tratava de empréstimo, mas, deveras facilitado) durante o último governo de Getúlio Vargas (1950 - 1954) para erguer seu jornal. Wainer foi o maior (e, por vezes, o único) defensor das ações de Vargas nesse período, e por isso, muito combatido pela grande imprensa.
Gratificação, propina, mala branca ou preta, jabaculê ou jabá. Não importa a terminologia. Trata-se de uma erva - daninha circundando a vida dos profissionais de imprensa. Imagine-se, por pura suposição, trabalhando em uma revista especializada em carros de passeio. Você é convidado a comparecer a um coquetel da citada (onde? Aqui? Não mesmo!) empresa, com objetivo de contemplar seu mais novo lançamento, para, depois, transmitir suas impressões em forma de artigo.
Até aí parece um procedimento corriqueiro. Contudo, se, após ouvir, se é que isto é feito, especialistas em segurança veicular, e estes lhe disserem que o modelo possui dispositivos que podem causar problemas aos futuros donos. Sua função ético-jornalística “impõe” que seu artigo seja acrescido desta informação. Afinal, segundo Natalino Norberto, seu patrão é o leitor.
Entretanto, ainda no nebuloso mundo das especulações, ao confrontar as informações com representantes da empresa, estes lhe ofertam “de todo coração”, um modelo inteiramente grátis, apenas para você desenhar, na matéria, contornos favoráveis à montadora, o que faria? Se optar por seguir uma conduta ética pode evitar que pessoas se machuquem, ou pelo menos advertir, sobre o problema. Do contrário é impossível, como no caso das empreiteiras que não foram as principais responsáveis, mas ajudaram, calcular o resultado.

Trotes dificultam o atendimento no SAMU

Se um dispositivo público não funciona corretamente, cabe à população fiscalizar e cobrar das autoridades, certo? Mas, e quando o próprio cidadão age contra o patrimônio da comunidade, o que é feito? Em que pode resultar este mau uso do aparelho público?
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU – 192) foi implantado no Brasil em 2003. Instalado em Salvador em 2005, desde então lida com numerosos trotes, telefonemas falsos informando urgências inexistentes, que congestionam as linhas e atrapalham o atendimento. Estima-se que, das quase mil ligações diárias para o serviço, cerca de quinhentas sejam trotes.
O código penal brasileiro prevê detenção de um a três anos e multa àqueles que perturbam o serviço telefônico. O SAMU conta, em seu sistema, com identificadores de chamadas para detectar infratores. “Quando começamos, o número de trotes chegou a 85% das ligações. Hoje, isso diminuiu para uma média de 50%”, diz Ivan Paiva, coordenador do serviço.
INFORMAÇÕES NAS ESCOLAS – Segundo a coordenação, a maior parte dos trotes é feita por adolescentes no intervalo das aulas. Paiva informa que estão sendo realizados projetos junto às escolas, a fim de prevenir o excesso de ligações. “Buscamos conscientizar os jovens sobre a real missão do SAMU, formando agentes multiplicadores. Pois, conhecendo nosso objetivo eles passam a auxiliar o serviço em vez de prejudicá-lo”.
Ivan Paiva lembra ainda, que um dos motivos da grande incidência de trotes, no inicio, foi a massiva campanha na televisão. “A massificação agiu de forma contrária, atraindo a curiosidade e ‘incentivando’ a freqüência de ligações falsas”.
De acordo com o coordenador “o trote obstrui parte considerável (cerca de 50%) das linhas, além do problema criado quando enviamos, desnecessariamente, veículos para atender uma chamada falsa, deixando de verificar alguma situação real, o que pode custar a vida de alguém que realmente precise de ajuda. Trabalhamos com o tempo e dispomos de pouco para agir, não somos apenas um serviço de ambulância”, conclui.
PRONTO ATENDIMENTO – Enquanto concluía a reforma de sua casa, o motorista Julio Cesar Barbosa teve a exata noção do que é a necessidade de um serviço de emergência. “Caí de um andaime de 4,3 metros de altura, quando estava rebocando a parede”. Ao despencar, bateu com a cabeça e fraturou a clavícula. “Fiquei ‘encostado’ e só voltei a trabalhar onze meses depois”.
“A triagem das ligações dura, no máximo, quatro minutos”, revela Dinivaldo Figueiredo, atendente do SAMU – 192. O telefonista conta que a meta do serviço é prestar socorro ao acidentado entre 10 e 20 minutos após a ligação. “Claro que os constantes congestionamentos na cidade dificultam nossa ação”.
Outro problema encontrado é o da localização exata do acidente. “Às vezes, nos dão informações incompletas, sem pontos de referência precisos. Isso complica a vida da equipe e prejudica a ação”, explica Figueiredo. É importante que os dados sejam corretos, apesar da urgência e tensão no momento do ocorrido. O que, muitas vezes, não é fácil, pois, geralmente, quem relata o fato é alguém muito próximo a vítima.
Para Julio Barbosa, o tempo de espera excedeu o que é estipulado pelo SAMU. “O socorro não demorou mais que 40 minutos, mas, para quem está imobilizado e sentindo dor, parece que dura uma eternidade”. Julio mora em Dom Avelar, periferia de Salvador. A base do serviço (pontos estratégicos de atendimento que o SAMU mantém nos bairros de Salvador) mais próxima à localidade fica em Cajazeiras, cerca de 10 quilômetros do lugar.
O fato é que o trote constitui um problema real para serviços de urgência. Para Mércia de Souza (nome fictício, aliás, uma praxe no SAMU – 192) “a brincadeira, além de prejudicar o atendimento, compromete vidas. No SAMU, um minuto de atraso pode trazer sérias conseqüências”. O serviço atende 24 horas e dispõe de meios insuficientes para burlar essa prática, que, mesmo diminuída ainda é um entrave ao socorro imediato.

Jornalistas que combatem em outras trincheiras

Quem pensa que o relógio é inimigo apenas do jornalista de redação está enganado. O assessor de imprensa possui prazos iguais ou até mais estritos que os dos seus ‘irmãos em armas’ em atividade nos jornais. Há também certa polêmica ou confusão no que se refere aos profissionais, que, por hora, atuam fora dos periódicos, e, por isso, não são vistos, por alguns, como jornalistas ativos.
Rivaldo Chinem disse em seu livro ‘Assessoria de Imprensa: como fazer’ que o assessor-jornalista “não mudou de ramo, mas, passou apenas para o outro lado do balcão”. O assessor tem a função principal de municiar a mídia com informações de interesse do assessorado e, quando possível, enviar sugestões para a execução de matérias de valor comunitário.
No caso de órgãos oficiais, por exemplo, ocorre também o inverso. “Os jornais costumam nos procurar logo cedo em busca de informações sobre acontecimentos do dia anterior, ou a respeito de medidas que serão tomadas sobre determinado fato. Uma festa popular, como o carnaval, por exemplo”, conta Betânia César, estagiária da assessoria de comunicação da Polícia Civil.
Betânia acrescenta que “às vésperas de finais de semanas e feriados prolongados e, em seguida, nas segundas-feiras, ou quaisquer dias posteriores, há uma ‘avalanche de e-mails’ e muitas ligações por parte da mídia”. Isto, segundo a estagiária, ocorre porque, geralmente, nesses períodos existe maior preocupação com os índices de violência e ações da polícia.
Uma assessoria de imprensa ou comunicação atua levando informações da empresa para a mídia, e, muitas vezes, se colocando à disposição desta para fornecer dados de interesse público. Betânia, porém, informa que há exceções intrigantes. “Na maior parte do tempo somos orientados a oferecer informações que favoreçam o órgão, em detrimento de maiores esclarecimentos”.
“Assessorias e redações precisam estar em contato constante”, afirma a jornalista Carmen Vasconcelos, que também já atuou como assessora. Ela ressalta que cabe ao profissional de assessoria filtrar as informações que saem da empresa para a mídia. “Isso facilita a relação de contrapartida com os jornais e, praticamente, assegura a projeção do assessorado e consolida sua credibilidade com a opinião pública”, afirma Rivaldo Chinem.
Parceira das assessorias e atuante em atividades que dependem desse trabalho, a apresentadora e jornalista Rita Batista narra sua experiência. “Tenho uma relação bastante amistosa com a maioria das assessorias de imprensa oficiais, e com os assessores particulares. Tem algumas pessoas que são péssimos profissionais, não dão resposta, não ligam, desmarcam em cima da hora, mas nada que atrapalhe o andamento dos trabalhos, pois a minha facilidade com outros assessores me permite pedir um ‘help’ de última hora.
E sempre faço referência à parceria com o assessor, ao vivo, no ar. E quando é ruim, a mesma coisa. Mas faço a crítica muito educadamente, até seu chefe ficar sabendo!”.
Hoje, o maior empregador de jornalistas no Brasil são as assessorias. Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) afirma, em entrevista cedida ao site ‘Católica Digital’, pertencente à Universidade Católica de Goiás, que “cerca de 20 mil profissionais atuam em assessorias em todo o país”.
Salvador oferece poucas alternativas para os jovens jornalistas. Assim, assessorias são o ‘porto seguro’ dos profissionais que, por falta de recursos técnicos, ou ‘excesso de contingente’ não conseguiram o sonhado cargo nas redações de jornais, que, por sinal, a cada dia tornam-se mais enxuta. O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) não dispõe de dados concretos e sequer de uma estimativa do número de jornalistas-assessores em atividade no estado da Bahia.
Segundo Chinem, há quem afirme que o jornalista-assessor perde suas características ao passar ‘para o outro lado’, mas, para o jornalista e professor Luís Guilherme Pontes Tavares, muda-se o campo de jogo, mas a essência e o comprometimento social são os mesmos: “Alinho-me entre os que defendem a possibilidade de permanecer jornalista ainda que no exercício de assessor de imprensa. Portanto, colocado o bom senso em primeiro lugar, é possível atuar sem sacrificar o compromisso com a verdade e permanecendo no exercício de uma função que é pública, transparente, como é a função do jornalista”.
Para Luís Guilherme, o assessor de imprensa deve oferecer todas as condições para o repórter cumprir a pauta que recebeu. “Se não for possível caminhar nesse sentido, cabe ao assessor de imprensa delegar o atendimento a outro profissional da comunicação, a exemplo do Relações Públicas. O tema tem muitas facetas e não nos cabe reduzi-lo a algo muito simples, porque ele não é tão simples como desejamos”, conclui o jornalista.

Quem não tem teto de vidro...

Para não perder o mote pascoal, considero imprescindível discutir a questão difamatória sob uma ótica factual da vida de certa mulher. Nos três derradeiros e mais decantados anos da vida de Jesus de Nazaré, uma personagem, em especial, tem gerado polêmica por séculos: Maria de Magdala, ou, Maria Madalena. O que se sabe a respeito?
Ora, por séculos, a igreja católica difundiu a idéia de que se tratava de uma prostituta, ou, por alguns momentos, uma adúltera. Historiadores afirmam que esta mulher foi de extrema importância durante o ministério de Jesus. Outros até radicalizam. Apostam categoricamente que Madalena fora esposa de Jesus, contrariando a visão que conhecemos do cristianismo e deixando a todos com “a pulga atrás da orelha”.
O fato é que, por séculos, esta mulher foi tratada pelo mundo cristão como “a pecadora”, e hoje, a própria difusora da informação tenta rever seu erro histórico. Vale lembrar que, a mulher tem sido reprimida pelos cultos cristãos por toda a história do cristianismo. Algo que não se percebe na maioria das seitas pagãs européias, onde estas eram cultuadas como provedoras da vida.
A história da humanidade nos presenteia com diversas histórias de mulheres reprimidas por sua condição feminina. Ora, o que aborrecia Otávio quando resolveu mandar suas tropas contra Cleópatra senão o incomodo de ser contrariado por uma mulher? O que dizer dos franceses, que, durante a guerra dos cem anos, após combater com Joana D’arc, que disfarçada de homem provara ser um valoroso soldado, optaram por queimá-la?
Assim o foi com Maria de Magdala. Há textos apócrifos que lhe são atribuídos, e relatos históricos que já afirmam sua posição de relevância frente aos apóstolos. Mas, o que ganhariam as igrejas ocultando a importância desta mulher e relegando-a ao incômodo posto de pecadora? Há nesta ação alguma tentativa de preservar riquezas ou apenas um motivo a mais para subjugar as mulheres já tão reprimidas no mundo ocidental?
Para o Houaiss, difamação significa imputação ofensiva de fato(s) que atenta(m) contra a honra e a reputação de alguém, com a intenção de torná-lo passível de descrédito na opinião pública. Para Maria, talvez, após séculos de obscuridade, e de versões aplicadas à sua imagem, tenha chegado a hora da redenção. Não na forma de fé religiosa, mas com a libertação da mulher dos gradis impostos por seus semelhantes do pólo oposto. O melhor remédio contra ataques à honra e à imagem de alguém é o combate no campo da idéias. O acusador tende a cair em contradição, mesmo que o tempo passe e as pessoas finjam esquecer.

Observações sobre um jornal que, investindo na tradição e dando voz aos leitores, redescobre caminhos para comunicar e vender

“Inovar pode também pressupor investir na simplicidade”

Um jornal precisa sobreviver, e, para tanto, é imperativo ter, além de competência idoneidade e conteúdo, algum apelo comercial. Aprofundar questões relevantes e ter capacidade para abordar assuntos suaves, quando necessário, juntamente com um bom projeto gráfico, a ousadia de arriscar e a destreza para captar recursos, são os componentes que o auxiliam a comunicar e vender harmoniosamente.
Durante o carnaval de 2009, A TARDE apostou no diferencial e ousou. A concepção gráfica baseou-se no tema da festa deste ano, em Salvador: o afoxé Filhos de Gandhy. A referência foi exposta em forma de ilustrações do mais conhecido símbolo da entidade – o colar de contas brancas e azuis.
Os desenhos da peça circundavam as páginas das edições dos dois primeiros cadernos, que, fugindo da seriedade habitual e, mesclando cores variadas com o tradicional bicolorido (preto e branco), levou a festa ao leitor. Com isso, ficou um passo à frente da concorrência, o que deve ter resultado em boas respostas no setor comercial.
As fotografias das edições neste período buscavam transportar o ambiente carnavalesco para o sofá da sala de estar dos leitores. Diferente de imagens de flagrantes escandalosos, ou divulgando ações governamentais, os cadernos priorizaram o que já era difícil de retirar da cabeça dos baianos. Querendo ou não, amando ou odiando o carnaval, desprezar sua presença seria impossível. O jornal se propôs a mostrar o óbvio por diferentes ângulos.
No decorrer do delírio momesco, todo primeiro caderno se ocupou da festa. É preciso ressaltar a audácia do jornal em mudar o foco das reportagens, colocando, a cada dia, um repórter diferente em situações peculiares, aclimatando-o aos festejos, contando, de maneira particular, “seu dia no carnaval”.
Foi uma decisão acertada. Este tipo de ação aproxima o veículo do consumidor de notícias, e deixa de lado aquela sensação de que a informação é algo que deve ser passado com frieza. Ações assim também conseguem traduzir o “real” da festa. A sensação que a notícia habitual tenta transmitir, mas, que, pelo caráter às vezes sisudo de sua confecção, se torna mais difícil.
Outro aspecto que foge radicalmente do costumeiro, até por que não caberia em um sistema usual de difusão de informações, é a seção “Diário do rei”, que, através de comentários enviados pelo próprio Rei Momo, nesta temporada, o cantor Gerônimo, narrava ao leitor as peripécias que envolviam o cotidiano de “Sua Majestade”.
Os “fatos sérios” e outras notícias que fugiam à temática foram relegados a outros cadernos. Compreensível, sob uma visão comercial. Ora, conceder menor atenção ao espetáculo em uma cidade que, por onze meses, aguarda ansiosa este acontecimento, e que, consegue vivê-la já um mês antes, seria cometer suicídio mercadológico. Não seria coerente estampar manchetes sobre crimes ou uma nova alta nas taxas de juros nesta ocasião.
Maior contemplado nas edições, o leitor ganhou, além dos habituais espaços de cartas que, diariamente, lhe é conferido, novos meios de expressar suas impressões sobre a festa. A seção “deixa que eu conto” se iniciava convidando: o importante é participar e, sem sair da condição de folião, contar o que acontece no circuito. Habilmente o jornal traz o leitor para perto. Cria maior intimidade. O cidadão se descobre parte ativa do veículo, confia nele, portanto, mantém a fidelidade e, ainda, o divulga.
O jornal habitual traz textos longos, que descrevem os fatos com minúcia. Segue dogmaticamente as regras dos manuais das redações. No entanto, neste período festivo, A TARDE se permitiu usar textos opinativos, tendo a celebração como objeto principal. O jornal buscou “ouvir a rua”, ou seja, o leitor.
É preciso salientar que, em uma festividade de tamanhas proporções, as pessoas não vão para casa, às seis da manhã, preocupadas em se enveredar por textos de grandes dimensões contando, detalhadamente, fatos novos sobre a crise econômica. Desejam algo mais leve para digerir. Não descartam, evidentemente, notícias sérias, contanto que estas cheguem de forma simplificada.
Os títulos seguem a “temática da alegria”. Enquanto, nos “dias comuns”, são diretos, frios, circunspectos, no carnaval foram utilizados com caráter lúdico, aludindo sempre às referências da festa. Isso facilita a recepção por parte do consumidor e pelos anunciantes, que buscam, até e inclusive, em um jornal, o que de melhor esta festa pode oferecer. Demonstrando que, acima de tudo, mesmo partindo de um veículo tradicional, inovar pode também pressupor investir na simplicidade, para, ao mesmo tempo, vender e comunicar.

Um instante, seu Arcebispo...

No final do século XIX, com a proclamação da república, o Estado brasileiro, abraçando as tendências positivistas européias, difundidas, principalmente, pelo francês Auguste Comte, separou-se oficialmente da Igreja. Teoricamente deu-se, naquele momento, o primeiro passo para uma ampla liberdade religiosa.
Claro que o processo foi gradual e moveu-se com lentidão no que se referia a dar espaço a religiões não-cristãs, como o candomblé, por exemplo, que até bem pouco tempo (leia-se meados do século XX), era tratado como cultura marginal, sendo sua prática sujeita a prisão.
Com todo esse trabalho para definir democraticamente a posição de um e de outro, religião e Estado, parece que, para uns, essa dissociação não está totalmente esclarecida. Ou seria algo difícil de descer pela garganta de alguns? O fato é que representantes do povo, no meio político, ainda galgam posições através da religião. Esta, por sua vez, sente-se no direito de palpitar e até interferir (ou tentar, pelo menos) em decisões que não são da sua competência.
Vejamos um caso, que conseguiu grande espaço na mídia brasileira, apesar do fascínio desta por casos supérfluos, como o que representa o retorno de Ronaldo Fenômeno, ou quanto custa os passeios (leia-se viagens de pré-campanha) da Ministra da casa-civil Dilma Roussef pelo país.
Desde o final de fevereiro vem-se discutindo o caso da garotinha pernambucana, de nove anos, que engravidou após ser estuprada, e, seguindo determinação médica, foi submetida a um aborto induzido, para evitar a provável morte da menina, que, de acordo com os médicos, não dispunha de condições físicas, sem mencionar o prejuízo emocional, para suportar uma gestação, e, neste caso, como agravante, de gêmeos.
O arcebispo de Olinda e Recife entrou na discussão, e, valendo-se da pragmática dos dogmas religiosos, tentou impedir, sem sucesso, o aborto. Alegou o eclesiástico, que este procedimento contrariava as regras divinas.
Disse também que o estupro sofrido pela garota seria um crime menor frente à, segundo ele, “absurda” interrupção da gestação, excomungando, entenda-se amaldiçoando, expulsando do seio da igreja (resta saber se algum deles é ou, algum dia, foi católico), tanto os médicos realizadores do procedimento quanto a mãe da menina. Salva da pena do arcebispo, a garota, aguarda no hospital, seu pronto restabelecimento, para poder regressar à sua casa.
Como é possível um dito representante do que é divino, vir a público, dedo em riste, contra uma ação que salvou uma vida? A lei brasileira é clara quanto a casos de gravidez precedida por estupro: a vítima tem direito ao aborto. Nosso Estado é laico, a religião nada pode fazer ante as leis pré-estabelecidas. E, no mais, as crenças católicas, tão difundidas durante séculos, nos levam a crer que Deus é composto essencialmente de amor, portanto, prontamente disposto a entender uma questão tão óbvia quanto a necessidade de se salvar uma vida.
Urge agora, e já com certo atraso, uma discussão mais incisiva quanto ao direito da mulher poder escolher que destino dar a seu corpo. Esta foi uma situação em que a vida de uma menininha estava em jogo. Mas, há inúmeros outros casos onde essa necessidade requer urgência. Cabe às autoridades uma maior atenção a esta falta. É um absurdo que ainda tenhamos que discutir se é pecado ou não realizar um aborto em uma garota de nove anos, estuprada, que, sem este procedimento morreria.

Orquestra Imperial encanta a Concha Acústica



por: Carlos Eduardo

De puro êxtase foi a expressão nos olhos de Lorena, que, pela primeira vez ouvia uma seqüência de músicas da imprevisível Orquestra Imperial. E, como quase todos os presentes naquela noite, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves (TCA), um show inteiro da banda.
O “hermano” Rodrigo Amarante, a polivalente Thalma de Freitas, o multi-instrumentista Moreno Velloso e outros nomes, consagrados ou não, do cenário musical brasileiro que fazem parte dessa big band carioca, que conta ainda com o auxílio luxuoso do mestre Wilson das Neves, e da pegada tropicalista de Nélson Jacobina, eterno parceiro de Jorge Mautner, mostraram, no palco, porque esse grande encontro vem funcionando tão bem há tanto tempo (sete anos), e porque razão a Concha estava lotada de fãs e curiosos.
A apresentação começou com “sem compromisso”, de Nelson Trigueiro e Geraldo Pereira. A Orquestra passeou com fluidez irrepreensível por clássicos do samba e da MPB. E, se há uma coisa da qual o grupo não prescinde, é a irreverência, facilmente notada, acatada e reverenciada pelo público.
Os convidados, marca registrada da OI, são intimados a comparecer ao palco ao som de uma clássica vinheta, utilizada durante muitos anos por Silvio Santos, em seu “Show de Calouros”, aquela com um característico “lá vem Fulano lá, lá rá lá rá...”.
Os convocados não fugiam às características da noite e deram um espetáculo à parte. Tanto a diva Virginia Rodrigues, quanto o roqueiro Márcio Mello entraram na dança e mantiveram o alto nível da festa durante o tempo em que estiveram no palco.
No final de sua apresentação, Márcio, provocado por Moreno Velloso com um sarcástico “agora quero ver você tocar um samba!”, arriscou os primeiros acordes do Samba da Benção, de Vinícius de Morais e Baden Powell. Provocação aceita e respondida, a OI acatou a idéia e seguiu o cantor até o final da música.
A ausência sentida foi de Nina Becker, cantora de voz forte, e dona de uma doçura e presença de palco marcantes, que, apesar de (en) cantar em duas canções, onde o público pôde notar que falta faria sua ausência, passou a maior parte das quase duas horas de espetáculo no backstage, ao que parece, vítima de um súbito mal-estar.
O encanto então ficou por conta do talento e da beleza de Thalma de Freitas, que esbanjou charme e abusou dos elogios ao declarar seu amor à Bahia. Um animadíssimo Moreno Velloso e a irreverência incontida de Amarante, que ao final, deu muito trabalho aos assistentes de palco, subindo no bumbo da bateria e causando uma divertida confusão, enquanto cantava “eu bebo sim, estou vivendo...”, deram cores, e tons, finais ao espetáculo, que contou ainda com um desabafo, em forma de canção, do músico Rubinho Jacobina, irmão do Nélson, cujo refrão dizia, com todas as letras, que, apesar de inúmeros adjetivos que lhe podiam ser atribuídos, “artista é o caralho!”.

O carnaval visto a partir dos quadris de uma mulata que descia a ladeira


“Se fosse por mim, todo mundo andava sambando assim, nesse passo passando, porque nada mais bonito que um brasileiro pé duro, representante da raça, descendo num samba, a ladeira da praça” (Morais e Galvão)

Por: Carlos Eduardo

Das ruas, ladeiras, esquinas e becos de Salvador vieram baianas de saias rodadas, exibindo o bordado das sandálias e convidando os mortais para sambar. E o povo foi. Quem não iria? Neste clima lascivo, e não dava para ser diferente, deu-se início ao carnaval no Centro da cidade. Na “Avenida”, como chama, carinhosamente, o soteropolitano à Avenida Sete de Setembro.
Os afoxés ou candomblés de rua, capitaneados pelo Filhos de Gandhy, que, neste carnaval, completou 60 anos de atividades, foram os grandes homenageados da festa de Momo. No entanto, a cena na Cidade Alta foi tomada de assalto pelo samba, que, representado por algumas de suas maiores expressões, samba-exaltação, samba-enredo, pagode, samba-de-roda entre elas, voltou a ser destaque.
Em entrevista cedida ao programa Soteropólis da TV Educadora da Bahia (TVE), exibida na noite de 26 de fevereiro, o sambista Roberto Mendes confirmou que o apoio do governo do estado veio suprir uma necessidade do carnaval baiano em preservar suas raízes.
O governo estadual, através do programa “Carnaval Ouro Negro”, investiu, já pelo segundo ano seguido, recursos para garantir os desfiles de entidades de matriz africana (afoxés, blocos de samba, de reggae, de índios e de percussão). Tendo o número de organizações beneficiadas aumentado de 104 em 2008, para 117 este ano. Os recursos variam, de acordo com o site da secretaria estadual de cultura, de R$ 15 a R$ 100 mil, num total de R$ 4,2 milhões. O critério adotado para garantir o repasse foi a prestação de contas por parte de cada entidade.
Nascido na Bahia ou não, o samba traz a poesia, a alegria e o lamento como antagonismos necessários à sua existência. Hoje ele é universal. Que diriam Donga e Mauro Almeida, autores de “Pelo telefone”, primeiro samba gravado, pela Banda Odeon, em 1916, ao ver que hoje o ritmo é permitido a todos que desejem ouvi-lo? O perigo está no vício. Após noventa e três anos, apenas a roleta, citada na música, é considerada uma contravenção.
O samba é do povo, como a praça, e quem sabe o céu, que outrora pertenceu ao condor e, posteriormente, ao avião. Sob sua influência você pode ver o suingue desengonçado das japonesas e das louras européias, que, já extremamente bronzeadas, e embriagadas pelo ambiente da festa, e por algumas doses de qualquer bebida, caem na lábia e nos braços dos baianos.
Essa aquarela global avança no compasso dos ritmistas, que fazem explodir esta arte popular no alto dos trios ou no chão de barro dos bairros populares. A festa foi conduzida por nomes consagrados como Arlindo Cruz, Nelson Rufino, Grupo Fundo de Quintal, Dudu Nobre e Revelação, que dividiram democraticamente a atenção do público com a diva baiana Mariene de Castro e nomes novos como o Alma Popular, em seu primeiro carnaval.
O samba, tal qual a hidra mitológica, que a cada cabeça cortada apresentava outra em seu lugar, trouxe a voz do morro, da periferia e do Recôncavo para brincar no asfalto da “Avenida”. Os súditos de Momo vão soltos ou aderem a cordões, pagos ou não, para seguir o encanto e a malemolência das filhas do Senhor do Bonfim. Não querem saber se o diabo nasceu na Bahia ou em qualquer outro sítio. Enquanto isso, aguardam o trio romper, ao sol, na quarta-feira, cantando um Brasil rebolando ladeira abaixo.
O morro forçou sua passagem. Fez valer sua voz e a cidade inteira sambou. No ano do afoxé, do Campo Grande até a Praça Castro Alves se podia ouvir o povo sussurrando que este ano foi seu. Algo mais que confirmado com o retorno do samba elétrico dos Novos Baianos, que voltaram a fazer “de qualquer pedaço” um Campo Grande, comemorando este ano 40 carnavais de sua histórica e profícua reunião.
Um de seus cantores, Paulinho Boca, durante a apresentação no Centro sentenciou que depois de tanto tempo o grupo parece eterno. E o povo nas ruas confirmava cantando, sem cansar, quase todas as músicas.
A marca do grupo ainda se apresenta ao se olhar bem de perto para o carnaval da Bahia, atentamente, sem o auxílio de lentes de aumento. O hábito hoje tão comum de subir num trio elétrico e cantar era algo inusitado na década de 1960, antes destes mestres da música brasileira, que tocaram pandeiro e fizeram todo mundo dançar sua mistura tropicalista de rock, samba, bossa e baião.
Bem que, antes que a quarta-feira chegasse, a Bahia em saudação poderia ter gritado em uníssono, que “acabou chorare, mas, no fim, ficou tudo lindo, de manhã cedinho”!

O jornalista, o cavaleiro e a ética

Por: Carlos Eduardo

“O jornalismo é a prática cotidiana do caráter”, já dizia Cláudio Abramo. E como poderia ser diferente? Esses elementos devem sim andar de mãos dadas, como irmãos de contos infantis. Mas, existem profissionais, que, sem atrelar qualquer ônus à consciência, burlam os códigos éticos em proveito próprio. O que parece comum, quando falamos de uma sociedade hedonista, onde o bem coletivo é cada vez mais esmagado e dispensado sob o tapete.
A jornalista Malu Fontes, relatou, há algum tempo em coluna que mantém em uma famosa rádio de Salvador, sem citar nomes, histórias de profissionais de veículos badalados da cidade que, utilizam de sua influência (ou a do meio em que trabalham) para obter descontos em lojas, empréstimos de roupas finas para eventos e até “mimos” de donos de estabelecimentos em troca de publicidade.
Difícil saber quais os argumentos utilizados por estas pessoas (se existem), para justificar tal conduta. Talvez se encaixe naquela máxima de que, se podem “trocar favores” em Brasília sem constrangimento, por que não fazê-lo aqui também? O precedente foi mais uma vez ratificado, há pouco, pelo “bola da vez” da Ilha da Fantasia do Planalto Central, Edmar Moreira, deputado pelo DEM – MG, e seu “insanável vício da amizade”, que, de acordo com o parlamentar, é lugar-comum no congresso.
Como evitar tais deslizes? A tentação, em sentido bíblico mesmo, está aí, em todos os cantos da sociedade. Será que cabe ao jornalista vestir-se tal qual um cavaleiro da lendária Távola Redonda, a fim de se proteger dos ataques contra sua imprescindível virtude? Bem, não temos a alma tão impenetrável quanto o justo Galahad, nem, como estes guerreiros, buscamos a perfeição humana. Contudo precisamos nos manter vigilantes, o tempo inteiro. Pois, sempre haverá corruptores, não se enganem.
Como não havia cavaleiros em horário comercial, não devem existir jornalistas de meio período. O profissional de imprensa deve estar alerta todo o tempo. Um soldado entrincheirado e combativo em tempo integral. Pronto e disposto sempre a defender sua coroa, a ética, ante os desafios diários do meio. Mesmo que isso lhe custe sua sensação pessoal de paz. Ser justo o tempo inteiro deve doer, como dói a tentativa, que é o degrau em que todos, ainda, e, felizmente, nos encontramos.

Ética retalhada

“... vocês ficarão aliviados ao saber que tudo não passou de um entretenimento” (Orson Welles no fim da ‘cobertura’ da invasão alienígena)
Por: Carlos Eduardo

Subentende-se por ética um código comportamental de determinada sociedade, em consonância com valores estabelecidos numa época especifica. Há, no entanto, situações que passam despercebidas, podendo divergir diretamente desses princípios pré-concebidos. Nasce aí a dúvida acerca dos limites convencionados. Como identificar e desagregar o que é “bom” para a comunidade daquilo que pode beneficiar uns poucos?
O soco - Montevidéu, 23 de novembro de 1981, final da Taça Libertadores da América entre Flamengo e Cobreloa do Chile. Após vitória flamenguista no Maracanã, e caça aos rubro-negros no Chile, onde venceram os donos da casa, o neutro Uruguai foi palco do decisivo embate. A história é conhecida, o Flamengo venceu por 2 a 0, sagrou-se campeão e todos foram felizes para sempre, ok?
Mas, como nos melhores contos de fadas alemães, nem tudo é como parece, e, nem sempre a história é contada de maneira exemplar, edificante. Minutos antes de terminar a partida, já decidida, o técnico rubro-negro, Paulo Cesar Carpeggiani manda o ponta-esquerda Anselmo entrar em campo com uma missão: vingar os companheiros agredidos no jogo anterior, socando um adversário.
O ato provocou confusão em campo. Anselmo foi expulso, levando consigo dois jogadores adversários. Dever cumprido. Mas, não está entre os méritos históricos das atividades esportivas a suspensão temporária das hostilidades e a manutenção das boas relações entre os povos? Até que ponto uma atitude agressiva, e vingativa pode desmerecer uma vitória obtida com reconhecido merecimento? O resultado não podia mais ser alterado. A atitude reflete a sanha humana primitiva de se impor através da força.
A invasão - EUA, outubro de 1938, adaptando para o rádio a obra “Guerra dos mundos” de H.G. Wells, Orson Welles, ator, jornalista e cineasta norte-americano, provocou pânico nos ouvintes da rádio CBS (Columbia Broadcasting System) e de suas retransmissoras, simulando uma invasão marciana na cidade de Grover’s Mill, New Jersey, causando alvoroço sem precedentes.
O fato serviu para consolidar a posição do rádio como veículo de massas, comprovando seu poder e influência. Segundo jornais da época, a encenação contava com sons entrecortados por momentos de um silêncio mórbido, o que aumentava a tensão e aclimatava o pânico dos ouvintes. Tudo se deu como uma cobertura jornalística.
Estima-se que cerca de seis milhões de pessoas nos EUA acompanharam os relatos, que contavam com intervenções ao vivo de repórteres no meio da programação, criando um ambiente propício ao terror, além da palavra de especialistas que comentavam as conseqüências de um fato deste porte.
No início da transmissão, Welles informou ao público sobre a representação, mas, quando grande parte dos ouvintes sintonizou a CBS, a apresentação estava em andamento passando então a aceitar a situação como verdade. Houve fuga em massa das cidades vizinhas àquelas onde, supostamente, ocorria a invasão, sobrecarga nas comunicações, o que correspondia aos relatos, pânico generalizado, pessoas desesperadas invadindo as ruas. Além de Jersey, o caos paralisou as cidades de Newark e Nova Iorque.
Responsabilidade - A “brincadeira” de Welles ancorou-se na credibilidade que a comunidade deposita nos meios de comunicação. É nesta linha tênue que se sustenta a indústria da informação. Quando se pára de crer em determinado veículo ele perde sua força. É justamente esta troca de confiança que cativa o ouvinte/leitor/telespectador. Desfeito tal laço torna-se impraticável a transmissão de informações.
Cabe, em tempo, citar a atuação da mídia sensacionalista que, a seu modo, inflige medo nas pessoas através da exibição gratuita, com a desculpa de que precisam mostrar a verdade, da miséria humana em sua pior face. Este jornalismo selvagem e sem controle não costuma ater-se a convenções sociais e exibe todo o seu espetáculo grotesco geralmente ao meio-dia, quando os cidadãos estão, em sua maioria, livres de afazeres e, portanto aptos a digerir crua, a realidade que lhe é apresentada.
Os transmissores de informação, notoriamente conscientes de seu poder diante da opinião pública precisam encontrar meios responsáveis para divulgar a notícia, de modo que esta seja interessante, sem, no entanto comprometer sua imagem perante seus receptores, nem precisar utilizar de meios sensacionalistas e, por vezes, inescrupulosos para conseguir seu intento: a audiência, ou a venda de jornais.
Castelo de cartas marcadas - Brasília, 2009, o deputado federal pelo DEM de Minas Gerais, Edmar Moreira, concorre como candidato avulso ao cargo de 2º vice-presidente da câmara. Até aí, tudo bem, afinal a democracia ainda impera no país.
Eis que surge um fato, que soaria fabuloso não fossem imagens nos jornais e na televisão, que ilustram a história. Um castelo, em estilo medieval, não declarado à Receita, avaliado em cerca de R$ 20 milhões, em São João Nepomuceno, interior mineiro, é identificado como propriedade do deputado. Suspeita-se então de que o imóvel foi construído com o desvio de dinheiro público.
Edmar, que era apontado, até então, como candidato provável ao cargo de corregedor-geral da casa, função que, a princípio, passa uma idéia de que seu ocupante deve ter o mínimo de conduta ética, justificou o ocorrido, dizendo que, por estar em nome de seus filhos o bem não deveria constar como sua propriedade. Não se esquecendo de ressaltar que sua trajetória política sempre foi pautada pela transparência, e essas coisas que diz todo político acusado.
Bem, seu partido, o DEM, que engendra uma árdua luta para livrar-se da imagem deixada por sua sigla anterior, o PFL, e tornar-se um partido defensor dos ditames éticos da nação – assim como era o antigo PT, não sei se vocês lembram – decidiu entrar na história, exigindo seu mandato junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Xeque-mate - Edmar abdicou (verbo adequado em casos de habitantes de castelos, palácios e afins) da vice-presidência, sem abrir mão da corregedoria-geral, que lhe escapou em seguida, restando agora o risco de perder também o mandato. Foi sendo aos poucos derrotado como um rei acuado num jogo de xadrez.
Recentemente, o deputado solicitou desfiliação do DEM, tentando não perder nos bastidores o que conquistou nas urnas. Contudo, pesa ainda sobre ele a acusação de ter desviado valores relativos às contribuições previdenciárias que deveriam ter sido descontadas do salário dos funcionários de suas empresas.
Assim se vê um funcionário público indo contra tudo o que seu cargo e aqueles que o concederam esperam. Sem comprometimento algum do eleito para com seu principal patrão – a população. A regra vigente aqui é a do acúmulo, e da preservação de bens privados a partir do uso de recursos públicos.
Quem sabe, com a intervenção de São João Nepomuceno, não sua cidade, mas, o santo padroeiro mesmo, que tem certa experiência em ouvir e ajudar quem tem segredos “cabeludos”, Edmar Moreira consiga seu intento. O que seria a derrota da democracia a partir de uma conduta imoral. São João Nepomuceno é tido como o confessor da rainha Isabel Stuart da Boêmia, atual República Checa. Dizem que levou para o túmulo os segredos da rainha. Nestes tempos, segredos reais costumavam ruborizar os mais libertinos habitantes de Sodoma e Gomorra juntos. Hoje, soariam como cantigas de roda em boca de criança.

Óleo de cozinha pode virar biocombustível

Por Carlos Eduardo Santos

Quando está comendo batatinha frita, pastel ou acarajé, você já parou, entre a mordida e o guardanapo, para pensar se está dando o destino correto ao óleo utilizado para torná-los tão crocantes? Algumas pessoas já pensam nisso, gente como o engenheiro químico Luciano Hocevar que pesquisa as possibilidades de reciclagem deste material e peregrina pela cidade coletando o resíduo que ainda é jogado indiscriminadamente no solo e nos encanamentos das casas.
“Meu interesse por reciclagem de óleo surgiu da constatação de que ela já era utilizada, em outros estados, como matéria-prima para muitos produtos. Pesquisando sobre o assunto vi que na Bahia, o óleo ainda era desperdiçado, então percebi que poderia contribuir para mudar este quadro de desperdício”, diz o engenheiro, que salienta: “Quando o óleo vegetal é despejado em um curso d´água, pode consumir seu oxigênio e comprometer as condições que permitem a vida naquele local”.
A dona de casa Marildeth Alves diz que ainda joga o óleo usado no ralo e no lixo. “Já ouvi falar da reciclagem, mas não sei como nem para quem repassar o material”, diz. Para o “baiano de acarajé” Davi Souza, a situação é idêntica. “Despejo no mato, pois não tenho informações sobre nenhum lugar para descartar o azeite, e a quantidade diária é considerável, vou guardá-lo em casa até aparecer alguém?”, questiona.
O óleo, quando descartado indiscriminadamente causa danos à natureza. Despejado nas pias entope o encanamento. “Chegando aos rios, além de prejudicar a fauna, impermeabiliza o solo, facilitando o risco de enchentes, ou se decompõe na natureza, liberando metano, que produz mau cheiro e gás carbônico, agravando o aquecimento global”, explica Alexandre D’Avignon, professor do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da (UFRJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em outubro de 2007, a Assembléia Legislativa da Bahia recebeu o projeto de lei Nº. 16.828/2007, que pretende criar o Programa Estadual de Incentivo à Reciclagem de Óleo de Uso Culinário. Tendo por objetivos, sobretudo, a preservação do meio ambiente, o incentivo ao consumo consciente e à coleta seletiva, além da elaboração de produtos a partir do material reciclado. Desenvolvendo a economia e gerando novos empregos, facilitando a inclusão social.
“O projeto ainda não foi aprovado por estar na fila de espera e necessitar de uma série de procedimentos e articulações até ser votado e aprovado pelo governador”, esclarece Emanuel Mendonça, assessor do deputado Nelson Leal (PTB), que complementa: “a principal medida está no processo de re-educação e conscientização da população, a divulgação de marcas com ‘selos verdes’ e responsabilidade sócio-ambiental”.
Segundo Luciano Hocevar, muitos produtos podem ser fabricados a partir de qualquer resíduo de óleo ou gordura, novo ou usado “Sempre se fez sabão com restos de sebo, por exemplo, e massa de vidraceiro, com restos de óleo”. Podem ser citadas ainda resinas para tintas à base de óleo, e, mais recentemente, o interesse pelo biodiesel, que tem viabilidade técnica comprovada, mas que ainda depende de viabilidade econômica para se firmar.
Três mini-usinas começaram a produzir 100 mil litros de combustível, desenvolvido a partir do óleo de cozinha, por mês em Sorocaba/SP. De acordo com o engenheiro paranaense Rodrigo Martins da Silva, da Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Extensão da Unisul (Faepesul), esse combustível vai beneficiar o meio ambiente, pois óleos de cozinha não vão mais ser jogados nos mananciais.
A visão de que a reciclagem é algo bom para todos tem crescido de alguns anos para cá. “A população ainda precisa se dar conta de que pode resolver sozinha problemas como esse, afirma Hocevar. “Temos que nos conscientizar que, ao comprarmos um produto, pagaremos pelo custo de seu resíduo”, diz o engenheiro. Jogar fora materiais que podem ser reciclados é desperdiçar matérias primas e diminuir o acesso das futuras gerações aos recursos naturais cada vez mais escassos.
“É importante esclarecer a população que o óleo vegetal usado não é um vilão, mas pode ser descartado de maneira adequada. Se for jogado no esgoto, entupindo a tubulação, será necessário desobstruir depois, com um custo maior”, comenta Luciano Hocevar, que encerra: “Os efeitos de tubulações obstruídas podem ser observados em qualquer chuva que ocorre em Salvador, com alagamentos e canais que transbordam. Todos são atingidos por algo que pode ser evitado com uma atitude simples e sem custo”, finaliza.

O que fazer com o lixo tecnológico

Por Carlos Eduardo Santos


“Brasileira, artista plástica e artesã, disposta a colaborar com o meio ambiente, há seis anos trabalho com o lixo disponível e abundante no planeta”. Assim a artista Naná Hayne se define na internet, em sua página-loja “Vem do Lixo”, onde negocia acessórios de moda e até obras de arte. Tudo construído com matéria-prima inusitada, o lixo tecnológico (restos de aparelhos eletrônicos como, computadores, celulares, televisores e copiadoras). Tudo aquilo que você, cidadão comum, joga fora sem ao menos se perguntar “o que mais posso fazer com esse... lixo?”.
Segundo Ana Vieira, assessora de planejamento da Limpurb (empresa de limpeza urbana de Salvador), todos os dias são despejados cerca de 2,500 toneladas de resíduos sólidos (lixo comum) em Salvador.
Em um mês, esse número cresce para mais de 64,900. Não há dados concretos sobre o volume total dos materiais orgânicos, como restos de madeira resultado das podas de árvores.
Salvador, como as demais metrópoles brasileiras, vive o dilema entre crescer tecnologicamente e preservar o meio ambiente. Em tempos de reciclagem e boa conduta sócio-ambiental, o planeta é bombardeado com cerca de 50 milhões de toneladas de lixo tecnológico por ano. Ainda não se têm relatos, no Brasil, de entidades públicas responsáveis por esse setor.
Juliano Matos, Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) disse, em entrevista ao jornal A TARDE (5.7.2007), que “uma tonelada de placas de circuito interno de computador tem 17 vezes mais ouro que a encontrada nos garimpos em uma tonelada de material recolhido”. O Estado possui, no máximo, um setor de educação ambiental, vinculado à SEMARH.
Assessor assistente da Superintendência Municipal do Meio Ambiente (SMA), o engenheiro, Evandro Balalai informa que existe solicitação para a execução de um relatório a respeito. Mas, há também muita burocracia envolvida. O sistema no município - o setor de meio ambiente - ainda está em implantação. O assessor técnico do órgão, Adalberto Bulhões, não se pronunciou a respeito.
O lixo eletrônico, além do transtorno óbvio de se acumular como entulho, pode trazer problemas sérios à saúde, pois nos materiais descartados, mesmo em pequenas quantidades, existem metais pesados altamente tóxicos como mercúrio, cádmio, e chumbo, que, em contato com o solo, o ar ou a pele podem causar danos terríveis.
A iniciativa de Naná Hayne, junto com projetos no setor de robótica do Centro de Processamento de Dados (CPD) da UFBA (Universidade Federal da Bahia), são caminhos possíveis e renovam as esperanças para a situação brasileira, já que não existe legislação a respeito. O que há é um documento assinado na Convenção de Basiléia, em 1989, na qual 120 nações, incluindo o Brasil, e diversas Ongs se propuseram a regular a circulação de resíduos originados de lixo eletrônico em suas fronteiras.
“Como nosso aterro não trabalha com esse tipo de lixo como destino final, no bairro de Nazaré, centro de Salvador, Joseval e Joandro Araújo, dois irmãos, catadores desse material, atuam em parceria com a Limpurb, fazendo a coleta seletiva e repassando para reciclagem”, informa Ana Vieira.
A coleta dos irmãos Araújo pode ser agendada e eles recolhem o material em Salvador e região metropolitana. De acordo com Joandro Araújo, a Limpurb funciona como um canal de divulgação do trabalho e cede um documento (Manifesto de Resíduos) para entregar ao ‘doador do lixo’, assegurando que o material foi descartado corretamente. Depois de feita a seleta, o material é enviado para empresas de reciclagem.
“Realizamos um trabalho pioneiro, não somos vinculados à Ongs, no entanto, contribuímos no processo de conscientização ambiental, sendo, inclusive convidados para realizar palestras nesse sentido”, comenta Joseval Araújo, esclarecendo que “os equipamentos em funcionamento são doados a instituições necessitadas, o ferro é vendido para custear nosso transporte”. Vale lembrar que eles agem por conta própria.
O destino das placas de computador é diferente. “Como aqui em Salvador não existe uma empresa especializada nesse tipo de serviço, o material é repassado para firmas como a Lorene de São Paulo, onde é dado um destino final, a reciclagem”. “O importante é que esse material seja rapidamente reciclado, sem o risco de voltar ao meio ambiente e causar danos à natureza e a nossa saúde”, alerta Joseval.