e com a palavra...

Trotes dificultam o atendimento no SAMU

Se um dispositivo público não funciona corretamente, cabe à população fiscalizar e cobrar das autoridades, certo? Mas, e quando o próprio cidadão age contra o patrimônio da comunidade, o que é feito? Em que pode resultar este mau uso do aparelho público?
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU – 192) foi implantado no Brasil em 2003. Instalado em Salvador em 2005, desde então lida com numerosos trotes, telefonemas falsos informando urgências inexistentes, que congestionam as linhas e atrapalham o atendimento. Estima-se que, das quase mil ligações diárias para o serviço, cerca de quinhentas sejam trotes.
O código penal brasileiro prevê detenção de um a três anos e multa àqueles que perturbam o serviço telefônico. O SAMU conta, em seu sistema, com identificadores de chamadas para detectar infratores. “Quando começamos, o número de trotes chegou a 85% das ligações. Hoje, isso diminuiu para uma média de 50%”, diz Ivan Paiva, coordenador do serviço.
INFORMAÇÕES NAS ESCOLAS – Segundo a coordenação, a maior parte dos trotes é feita por adolescentes no intervalo das aulas. Paiva informa que estão sendo realizados projetos junto às escolas, a fim de prevenir o excesso de ligações. “Buscamos conscientizar os jovens sobre a real missão do SAMU, formando agentes multiplicadores. Pois, conhecendo nosso objetivo eles passam a auxiliar o serviço em vez de prejudicá-lo”.
Ivan Paiva lembra ainda, que um dos motivos da grande incidência de trotes, no inicio, foi a massiva campanha na televisão. “A massificação agiu de forma contrária, atraindo a curiosidade e ‘incentivando’ a freqüência de ligações falsas”.
De acordo com o coordenador “o trote obstrui parte considerável (cerca de 50%) das linhas, além do problema criado quando enviamos, desnecessariamente, veículos para atender uma chamada falsa, deixando de verificar alguma situação real, o que pode custar a vida de alguém que realmente precise de ajuda. Trabalhamos com o tempo e dispomos de pouco para agir, não somos apenas um serviço de ambulância”, conclui.
PRONTO ATENDIMENTO – Enquanto concluía a reforma de sua casa, o motorista Julio Cesar Barbosa teve a exata noção do que é a necessidade de um serviço de emergência. “Caí de um andaime de 4,3 metros de altura, quando estava rebocando a parede”. Ao despencar, bateu com a cabeça e fraturou a clavícula. “Fiquei ‘encostado’ e só voltei a trabalhar onze meses depois”.
“A triagem das ligações dura, no máximo, quatro minutos”, revela Dinivaldo Figueiredo, atendente do SAMU – 192. O telefonista conta que a meta do serviço é prestar socorro ao acidentado entre 10 e 20 minutos após a ligação. “Claro que os constantes congestionamentos na cidade dificultam nossa ação”.
Outro problema encontrado é o da localização exata do acidente. “Às vezes, nos dão informações incompletas, sem pontos de referência precisos. Isso complica a vida da equipe e prejudica a ação”, explica Figueiredo. É importante que os dados sejam corretos, apesar da urgência e tensão no momento do ocorrido. O que, muitas vezes, não é fácil, pois, geralmente, quem relata o fato é alguém muito próximo a vítima.
Para Julio Barbosa, o tempo de espera excedeu o que é estipulado pelo SAMU. “O socorro não demorou mais que 40 minutos, mas, para quem está imobilizado e sentindo dor, parece que dura uma eternidade”. Julio mora em Dom Avelar, periferia de Salvador. A base do serviço (pontos estratégicos de atendimento que o SAMU mantém nos bairros de Salvador) mais próxima à localidade fica em Cajazeiras, cerca de 10 quilômetros do lugar.
O fato é que o trote constitui um problema real para serviços de urgência. Para Mércia de Souza (nome fictício, aliás, uma praxe no SAMU – 192) “a brincadeira, além de prejudicar o atendimento, compromete vidas. No SAMU, um minuto de atraso pode trazer sérias conseqüências”. O serviço atende 24 horas e dispõe de meios insuficientes para burlar essa prática, que, mesmo diminuída ainda é um entrave ao socorro imediato.

Comments :

0 comentários to “Trotes dificultam o atendimento no SAMU”

Postar um comentário

deixe aqui sua colaboração e faça este blog valer a pena