e com a palavra...

Sobre presentes e jornalistas

Samuel Wainer, lendário jornalista e dono da “Última Hora”, em seu livro de memórias “Minha razão de viver” relatou como o “incentivo financeiro” dos empreiteiros que ergueram Brasília, no governo JK, havia se tornado um câncer para as administrações posteriores: Jânio Quadros e João Goulart, respectivamente.
De acordo com o relato de Wainer, os empresários exigiam, na base do toma-lá-dá-cá, favores especiais, exercendo acintosamente grande influência política, tanto no congresso nacional, como nos altos escalões dos citados governos. Isso, de cara demonstra a dimensão do perigo exercido por este “poder paralelo”.
Ainda segundo Wainer, estes “obséquios” perduraram ao longo das administrações que pôde acompanhar de perto (entre 1950 e 1964). Vale lembrar que o citado jornalista, por sua vez, foi agraciado com verbas do Banco do Brasil, (certo que se tratava de empréstimo, mas, deveras facilitado) durante o último governo de Getúlio Vargas (1950 - 1954) para erguer seu jornal. Wainer foi o maior (e, por vezes, o único) defensor das ações de Vargas nesse período, e por isso, muito combatido pela grande imprensa.
Gratificação, propina, mala branca ou preta, jabaculê ou jabá. Não importa a terminologia. Trata-se de uma erva - daninha circundando a vida dos profissionais de imprensa. Imagine-se, por pura suposição, trabalhando em uma revista especializada em carros de passeio. Você é convidado a comparecer a um coquetel da citada (onde? Aqui? Não mesmo!) empresa, com objetivo de contemplar seu mais novo lançamento, para, depois, transmitir suas impressões em forma de artigo.
Até aí parece um procedimento corriqueiro. Contudo, se, após ouvir, se é que isto é feito, especialistas em segurança veicular, e estes lhe disserem que o modelo possui dispositivos que podem causar problemas aos futuros donos. Sua função ético-jornalística “impõe” que seu artigo seja acrescido desta informação. Afinal, segundo Natalino Norberto, seu patrão é o leitor.
Entretanto, ainda no nebuloso mundo das especulações, ao confrontar as informações com representantes da empresa, estes lhe ofertam “de todo coração”, um modelo inteiramente grátis, apenas para você desenhar, na matéria, contornos favoráveis à montadora, o que faria? Se optar por seguir uma conduta ética pode evitar que pessoas se machuquem, ou pelo menos advertir, sobre o problema. Do contrário é impossível, como no caso das empreiteiras que não foram as principais responsáveis, mas ajudaram, calcular o resultado.

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