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Jornalistas que combatem em outras trincheiras

Quem pensa que o relógio é inimigo apenas do jornalista de redação está enganado. O assessor de imprensa possui prazos iguais ou até mais estritos que os dos seus ‘irmãos em armas’ em atividade nos jornais. Há também certa polêmica ou confusão no que se refere aos profissionais, que, por hora, atuam fora dos periódicos, e, por isso, não são vistos, por alguns, como jornalistas ativos.
Rivaldo Chinem disse em seu livro ‘Assessoria de Imprensa: como fazer’ que o assessor-jornalista “não mudou de ramo, mas, passou apenas para o outro lado do balcão”. O assessor tem a função principal de municiar a mídia com informações de interesse do assessorado e, quando possível, enviar sugestões para a execução de matérias de valor comunitário.
No caso de órgãos oficiais, por exemplo, ocorre também o inverso. “Os jornais costumam nos procurar logo cedo em busca de informações sobre acontecimentos do dia anterior, ou a respeito de medidas que serão tomadas sobre determinado fato. Uma festa popular, como o carnaval, por exemplo”, conta Betânia César, estagiária da assessoria de comunicação da Polícia Civil.
Betânia acrescenta que “às vésperas de finais de semanas e feriados prolongados e, em seguida, nas segundas-feiras, ou quaisquer dias posteriores, há uma ‘avalanche de e-mails’ e muitas ligações por parte da mídia”. Isto, segundo a estagiária, ocorre porque, geralmente, nesses períodos existe maior preocupação com os índices de violência e ações da polícia.
Uma assessoria de imprensa ou comunicação atua levando informações da empresa para a mídia, e, muitas vezes, se colocando à disposição desta para fornecer dados de interesse público. Betânia, porém, informa que há exceções intrigantes. “Na maior parte do tempo somos orientados a oferecer informações que favoreçam o órgão, em detrimento de maiores esclarecimentos”.
“Assessorias e redações precisam estar em contato constante”, afirma a jornalista Carmen Vasconcelos, que também já atuou como assessora. Ela ressalta que cabe ao profissional de assessoria filtrar as informações que saem da empresa para a mídia. “Isso facilita a relação de contrapartida com os jornais e, praticamente, assegura a projeção do assessorado e consolida sua credibilidade com a opinião pública”, afirma Rivaldo Chinem.
Parceira das assessorias e atuante em atividades que dependem desse trabalho, a apresentadora e jornalista Rita Batista narra sua experiência. “Tenho uma relação bastante amistosa com a maioria das assessorias de imprensa oficiais, e com os assessores particulares. Tem algumas pessoas que são péssimos profissionais, não dão resposta, não ligam, desmarcam em cima da hora, mas nada que atrapalhe o andamento dos trabalhos, pois a minha facilidade com outros assessores me permite pedir um ‘help’ de última hora.
E sempre faço referência à parceria com o assessor, ao vivo, no ar. E quando é ruim, a mesma coisa. Mas faço a crítica muito educadamente, até seu chefe ficar sabendo!”.
Hoje, o maior empregador de jornalistas no Brasil são as assessorias. Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) afirma, em entrevista cedida ao site ‘Católica Digital’, pertencente à Universidade Católica de Goiás, que “cerca de 20 mil profissionais atuam em assessorias em todo o país”.
Salvador oferece poucas alternativas para os jovens jornalistas. Assim, assessorias são o ‘porto seguro’ dos profissionais que, por falta de recursos técnicos, ou ‘excesso de contingente’ não conseguiram o sonhado cargo nas redações de jornais, que, por sinal, a cada dia tornam-se mais enxuta. O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) não dispõe de dados concretos e sequer de uma estimativa do número de jornalistas-assessores em atividade no estado da Bahia.
Segundo Chinem, há quem afirme que o jornalista-assessor perde suas características ao passar ‘para o outro lado’, mas, para o jornalista e professor Luís Guilherme Pontes Tavares, muda-se o campo de jogo, mas a essência e o comprometimento social são os mesmos: “Alinho-me entre os que defendem a possibilidade de permanecer jornalista ainda que no exercício de assessor de imprensa. Portanto, colocado o bom senso em primeiro lugar, é possível atuar sem sacrificar o compromisso com a verdade e permanecendo no exercício de uma função que é pública, transparente, como é a função do jornalista”.
Para Luís Guilherme, o assessor de imprensa deve oferecer todas as condições para o repórter cumprir a pauta que recebeu. “Se não for possível caminhar nesse sentido, cabe ao assessor de imprensa delegar o atendimento a outro profissional da comunicação, a exemplo do Relações Públicas. O tema tem muitas facetas e não nos cabe reduzi-lo a algo muito simples, porque ele não é tão simples como desejamos”, conclui o jornalista.

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