e com a palavra...

Ainda somos as crianças e estamos nos dedicando





Ainda é vivo na memória o momento em que aquele disco entrou lá em casa. Era o grande disco do “cara”. Ele era o ídolo maior e espelho para uma criança ligada em música no começo da década de 1980, assim como James Brown havia sido sua inspiração vinte e poucos anos antes.
Foi uma reviravolta e tanto em minha cabeça acostumada ao samba de Alcione, ao romantismo de Roberto Carlos (influência de uma mãe e de uma tia fanáticas que não perdiam um especial de fim de ano do Rei), e aos embalos da Blitz, Cazuza, João Penca e companhia.
O balanço de Beat it e Billie Jean, o clip apavorante (eu tinha menos de seis anos!!) de Thriller, que me servia de desculpa para dormir de luz acesa eram algo novo para mim.
Eu estava acostumado com o balanço mais conhecido de Rockin' Robin, I’ll be there, ABC. Aquela chegada radical aos anos 80, com guitarras distorcidas em meio a uma batida contagiante e uma dança ainda mais esquisita que o que a gente conhecia e esperava dele marcaram minha infância.
E logo depois, com aquele passo de ‘Moonwalker’ o moço entortou a espinha de muito malandro por aqui.
Nunca entendi porque ele decidiu mudar tão radicalmente sua imagem. Aquilo foi um golpe no estomago de muito garoto negro que nele via uma constante inspiração e tinha a certeza de que poderíamos chegar ‘lá’ também.
Ele jurava que a mudança era por questões de saúde. Vá lá, mas, o cabelo e o nariz precisavam ir junto? Cara, você foi contemporâneo dos Panteras Negras! Você viu Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos, que após receberem suas medalhas, levantaram seus braços esticados com as mãos cobertas por luvas negras e punhos fechados, nas Olimpíadas de 1968, no México. Viu o Sidney Poitier quebrar a banca em Adivinhe Quem Vem Para Jantar. O que tinha dado errado?
Disseram que você estava refletindo sua infância reprimida, seu pai agressor. Não sei. Mas, seu sucesso aumentou. Você não parava de vender. Casou até com a filha do Elvis! Depois sua casa caiu. Não pretendo entrar na discussão das acusações. Não tenho esse direito e hoje não seria o dia.
Não dá para ser jovem para sempre, Peter! Nem com pó de pirlimpimpim.
Enfim, um dia as coisas acabam. E a indesejada das gentes, como Bandeira costumava chamar, vem, e aí? Será que daí onde você se encontra dá para ver a ladeira do Pelô? O Santa Marta? Neverland? O que, afinal aconteceu contigo?
Dizem que para uma estrela se apagar é preciso muito tempo. É, meu amigo, você entrou em supernova ainda em vida, muitos te seguiram, te imitaram, e sua luz vai demorar a se apagar.
Ainda somos as crianças, ainda ouvimos aquele chamado e, embora nosso dia esteja menos brilhante, há muito fizemos uma escolha e pretendemos nos dedicar para mudar as coisas.
Até mais!!

Comments :

0 comentários to “Ainda somos as crianças e estamos nos dedicando”

Postar um comentário

deixe aqui sua colaboração e faça este blog valer a pena