e com a palavra...

10 Mandamentos/conselhos para uma conduta ética no jornalismo

Os 10 conselhos a seguir foram a minha contribuição para um dos trabalhos da disciplina Ética e Legislação, do curso de jornalismo da FIB, baseados no código de ética da profissão. O trabalho foi sugerido pelo professor Paulo Leandro.


1. Esteja sempre bem informado para melhor informar.
2. Seja responsável (sempre) – apure!
3. Seja fiel aos fatos - não omita nem invente!
4. Conquiste, respeite e proteja suas fontes.
5. Ouça sempre os dois lados!
6. Seja um paladino da justiça. Defenda o cidadão e dê voz aos excluídos.
7. Honre o jornalismo (ele não é escada - o jornal é veículo, mas o jornalismo não deve ser o caminho para conquistar glórias pessoais)
8. Publicar notícia segura é sua obrigação – não negocie essa informação.
9. Seja honesto – não plagie!
10. Você é um escravo do tempo, passível de erro – então admita- os e corrija – os sempre que o fizer.

Ainda somos as crianças e estamos nos dedicando





Ainda é vivo na memória o momento em que aquele disco entrou lá em casa. Era o grande disco do “cara”. Ele era o ídolo maior e espelho para uma criança ligada em música no começo da década de 1980, assim como James Brown havia sido sua inspiração vinte e poucos anos antes.
Foi uma reviravolta e tanto em minha cabeça acostumada ao samba de Alcione, ao romantismo de Roberto Carlos (influência de uma mãe e de uma tia fanáticas que não perdiam um especial de fim de ano do Rei), e aos embalos da Blitz, Cazuza, João Penca e companhia.
O balanço de Beat it e Billie Jean, o clip apavorante (eu tinha menos de seis anos!!) de Thriller, que me servia de desculpa para dormir de luz acesa eram algo novo para mim.
Eu estava acostumado com o balanço mais conhecido de Rockin' Robin, I’ll be there, ABC. Aquela chegada radical aos anos 80, com guitarras distorcidas em meio a uma batida contagiante e uma dança ainda mais esquisita que o que a gente conhecia e esperava dele marcaram minha infância.
E logo depois, com aquele passo de ‘Moonwalker’ o moço entortou a espinha de muito malandro por aqui.
Nunca entendi porque ele decidiu mudar tão radicalmente sua imagem. Aquilo foi um golpe no estomago de muito garoto negro que nele via uma constante inspiração e tinha a certeza de que poderíamos chegar ‘lá’ também.
Ele jurava que a mudança era por questões de saúde. Vá lá, mas, o cabelo e o nariz precisavam ir junto? Cara, você foi contemporâneo dos Panteras Negras! Você viu Tommie Smith e John Carlos, ouro e bronze nos 200 metros rasos, que após receberem suas medalhas, levantaram seus braços esticados com as mãos cobertas por luvas negras e punhos fechados, nas Olimpíadas de 1968, no México. Viu o Sidney Poitier quebrar a banca em Adivinhe Quem Vem Para Jantar. O que tinha dado errado?
Disseram que você estava refletindo sua infância reprimida, seu pai agressor. Não sei. Mas, seu sucesso aumentou. Você não parava de vender. Casou até com a filha do Elvis! Depois sua casa caiu. Não pretendo entrar na discussão das acusações. Não tenho esse direito e hoje não seria o dia.
Não dá para ser jovem para sempre, Peter! Nem com pó de pirlimpimpim.
Enfim, um dia as coisas acabam. E a indesejada das gentes, como Bandeira costumava chamar, vem, e aí? Será que daí onde você se encontra dá para ver a ladeira do Pelô? O Santa Marta? Neverland? O que, afinal aconteceu contigo?
Dizem que para uma estrela se apagar é preciso muito tempo. É, meu amigo, você entrou em supernova ainda em vida, muitos te seguiram, te imitaram, e sua luz vai demorar a se apagar.
Ainda somos as crianças, ainda ouvimos aquele chamado e, embora nosso dia esteja menos brilhante, há muito fizemos uma escolha e pretendemos nos dedicar para mudar as coisas.
Até mais!!

Que os deuses do futebol mostrem a sua cara




Se fosse incumbência de algum deus reger o futebol, este teria dado a vitória aos sul-africanos hoje. Não por sua dedicação em ganhar o jogo, pois isto não ocorreu.
Tentaram, antes, e com êxito por 88 minutos, frustrar a ânsia pelo gol da Seleção, que também não foi de todo ousada, e não mereceu em momento algum anterior ganhar a partida.
Seria preciso dar um castigo digno dos deuses olímpicos na Seleção, pela total falta de prumo e pelo excesso de desinteresse do time brasileiro (sim estou afirmando com isso que o Brasil tem a obrigação de atropelar qualquer adversário com tão pouco passado futebolístico e com visíveis falhas técnicas), que só acordou após o gol.
É um daqueles casos em que seria melhor eliminar as duas equipes por abusarem da atitude “antidesportiva”, para não dizer apática, de não praticar um bom futebol.
Dunga, fiel discípulo do professor Parreira, insiste ferreamente em sua multidão de marcadores inócuos e na carência absoluta de criatividade.
Para ele, que escancaradamente, prefere Maicon, o golaço de Daniel Alves, mesmo na esquerda, aliás, como já foi comum no futebol brasileiro (vide Nilton Santos, Junior e Jorginho, seu fiel escudeiro, que começou como lateral esquerdo) foi um sopapo com luva de pelica, apesar de os méritos por colocá-lo sejam dele.
Nosso treinador opta sempre pela força em detrimento do talento. Foi um crítico tenaz das seleções pré-tetra, chegando a ser indelicado e injusto com seus antecessores que tinham por pecado máximo praticar um futebol bonito de se ver.
Cabe a nós, humildes torcedores, a crítica realista e a fé de que os bons momentos do futebol arte ainda baterão à nossa porta.
Brasil na final. Se foi merecido ou não, pouco importa agora. Que venha os EUA e os deuses que nos ajude a reencontrar o bom futebol perdido entre a soberba seleção de Zagallo em 1974 e a fantástica cartola mágica do mestre Telê em 1982.

Errol Flynn




"Decadence - é melhor viver dez anos a mil que mil anos a dez" (Lobão)

No último sábado (20), Errol Leslie Thomson Flynn, ou simplesmente, Errol Flynn, um ícone da fase áurea do cinema americano, completaria seu centenário. De vida desregrada, contudo ou, por isso mesmo, intensa, este australiano de nascimento fez sucesso nas telas a partir da década de 1930 interpretando o ideal romântico dos jovens de sua época e traçando o estereotipo do herói salvador de donzelas em perigos a ser seguido pelas gerações futuras. Beberrão e mulherengo, o legado de Flynn para o mundo do cinema seriam suas performances heróicas (ele não costumava usar dublês em suas cenas de ação) e sua capacidade de viver intensamente no menor espaço de tempo possível.
Errol brindou as telas com a versão definitiva de Robin Hood, foi fantástico como o insuperável Capitão Peter Blood, e teve o prazer de contracenar nove vezes com a divina Olívia de Havilland, nada menos que seu grande amor e sua grande frustração. Ao contrário dos desfechos de seus filmes, a paixão dos dois não teve um final feliz, “devido às circunstancias (leia-se imposições) da época”, declarou Olívia. Sobre a sua ânsia de viver, Flynn confessou certa vez: “Pretendo viver a metade da minha vida. Não me importo com o resto”. É a velha história dos ícones de carreira meteórica, mas de vida efêmera. Preferem viver dez anos a mil que mil anos a dez.

Pequena e obsoleta explicação sobre nepotismo (à la Senado Federal)

O presidente da mais emblemática casa legislativa do país, José Sarney, aquele que mora, manda e desmanda no Maranhão, mas que se elege sempre pelo Amapá, disse que não sabia de nada a respeito dos atos secretos no Senado Federal, nem tampouco sobre seus parentes empregados na mesma instituição (é tanta gente que o coitado não pode, realmente, distinguir um do outro...família grande é assim mesmo)

Nepotismo:
Palavra bastante utilizada pelos povos cristãos durante a Renascença. Vem do italiano “nipote”, que significa “sobrinho”, daí se estende para toda a sorte de familiares. Isso era comum durante a regência dos ‘príncipes do Vaticano’, os Papas desse período que, quando ascendiam ao trono de Pedro, levavam consigo todos os parentes (alguns até - como o conhecido Alexandre VI, o papai e possível amante da não menos notória Lucrecia Bórgia - esposas, filhos, concubinas). Como podemos observar, o tempo passa, mas as práticas continuam as mesmas, vide os programas ‘espreme-sai sangue’ que nos são ofertados quase sempre ao meio-dia, e compare-os com o banho de sangue que os romanos aplaudiam no Coliseu. Como as edificações, a escala da sangria desatada diminuiu, mas está aí, nua e crua, em carne viva, mais viva do que nunca, assim como as práticas deveras contestáveis de nossos mandatários!

Casablanca: lágrimas, risos e uma canção sobre o tempo



“Morena dos olhos d'água, tire os seus olhos do mar, vem ver que a vida ainda vale o sorriso que eu tenho pra lhe dar.” (Chico Buarque)

Não sei se foi a canção. Talvez a história toda, afinal, é o romance melhor narrado da história do cinema no século XX. Não. Está decidido! Foram os olhos úmidos da Srta. Lund, quando cruzaram, novamente, o olhar do Sr. Blaine, após tanto tempo, que meu deu o mais concreto conceito de felicidade.
Acho impossível rever esta cena sem, também, molhar os meus. Como não desejar, não sonhar com um reencontro desta intensidade? Dá para sentir as bocas secas, o aperto no peito e o suor frio escorrendo das mãos. Todos deveriam ter seu momento “As time goes by”. Isso deveria ser item básico na cartola de qualquer sonhador.
O capitão Renault, homem de grande sensibilidade apesar da couraça rústica que tempos e paragens hostis sempre impõe às pessoas, compreenderia. Mil vezes, se fosse necessário. O ar seco e a incerteza presente em Casablanca tornam os mortais suscetíveis a toda sorte de sentimentos.
É possível ser feliz no deserto, contanto que se possa contar com um lugar agradável e cheio de aventuras (o “Rick’s”), um pianista amigo de “copo e de cruz” (perdoe-me, Chico Buarque, pelo excesso de citações), e a visão reincidente da Ingrid Bergman sentada junto à pianola, com os olhos rasos d’água. As coisas fundamentais ainda valem, insista o tempo em passar, ou não.
Mesmo que dezembro em Casablanca significasse outro tempo em qualquer outro lugar, seria capaz de quebrar os relógios de todos os bares do mundo, se isto significasse ver a Srta. Ilsa Lund saltar porta adentro. Tentaria sorrir e não hesitaria em pedir que tocassem, ao menos mais uma vez, aquela velha canção que fala do tempo e das coisas perenes.
Talvez o melhor momento para encontrar a felicidade seja aquele em que o mundo lhe cai sobre a cabeça. Que lhe tenham tirado quase tudo, deixando apenas a esperança. Bem na hora em que todos os sonhos vestem azul e brindam às luzes que estão prestes a serem mitigadas. É aquela força que surge do sinistro surpreendendo a todos.
Para ser feliz basta abrir as janelas e deixar que o vento purifique o lugar. Deixe alguém livre, por um instante que seja, para escolher seu caminho. Não tente reviver aquele momento precioso. Ele é único! Não volta. No entanto, não o esqueça. Ele te pertence também, afinal, o que é a felicidade, senão fragmentos de vida formando um mosaico colorido ao nosso redor? Compete-nos juntar os cacos e formar nosso próprio conceito.
Sim, é isso. Foi a canção! A música adequada na hora exata. Ela sempre nos transporta a circunstâncias marcantes. Às vezes isso pode até ser embaraçoso. Acho difícil alguém conseguir reproduzir aquele instante - Ingrid Bergman lacrimosa, ou melhor, dominando as lágrimas, enquanto o Rick, lá, impassível, deixando cair a máscara amoral. Sucumbindo ao mais ingênuo e complexo dos sentimentos.
Eis o tolo mais feliz que já vi. Esta cena ilustra, definitivamente, quando o silêncio é mais “ensurdecedor” que uma multidão, em uníssono, entoando palavras de ordem. Engraçado como tanta coisa se altera, enquanto outras, nem tanto, com o passar do tempo.
Mas, costuma-se esperar por um novo dia, sempre! O mundo não pulsa sem sonhadores. A paixão alimenta o planeta, seja ela justa ou hedionda. Não nos cabe julgar. Ela diz respeito tanto ao amor quanto à guerra, e isso é tudo que nos compete saber.
O resto pertence ao canto dos pássaros e às tardes azuis e romanescas dos filmes da década de 1940. Deixa que o tempo passe. É só isso que podemos fazer – sonhar, em preto e branco, com uma noite longínqua, em um bar perdido no deserto, perto do fim do mundo.

Chuvas em Salvador prejudicam população

As chuvas que castigaram Salvador nas ultimas semanas deixaram um rastro desagradável. Houve desabamentos e deslizamentos de terra em vários pontos da capital, carros ficaram submersos e, por enquanto, a Defesa Civil informa que já contabilizou 4.721 desabrigados, cerca de mil famílias, e que quase a metade é constituída por crianças de até 15 anos. Informa também que a média de ocorrências fica por volta de nove a dez casos por dia. Não se esquecendo de mencionar que a soma das ligações informando problemas relacionados à chuva chega a 150 diários.
A população tem sido sucessivamente prejudicada pelos efeitos colaterais das mudanças climáticas. Os problemas vão desde o teste de paciência de ter que esperar até 2 horas por um ônibus, o que, geralmente, ocasiona atrasos para se chegar aos locais de trabalho e nas instituições de ensino; os congestionamentos intermináveis cada vez mais comuns na cidade; até os casos onde é colocado em risco tanto o patrimônio quanto a vida dos cidadãos.
Juliane Barbosa estuda enfermagem em uma faculdade próxima à Av. Luís Viana Filho, e enfrentou alguns problemas para conseguir chegar à aula: “como a chuva já se estendia desde a madrugada pedi carona ao meu pai, achando que seria mais fácil chegar, mas, tivemos alguns problemas com os engarrafamentos e, por pouco o nosso carro não ficou atolado naqueles rios que se formam no meio da rua. Cheguei atrasada e, graças a Deus a atividade marcada tinha sido cancelada, pois a sala não tinha nem a metade dos alunos”, conta.
Trabalhando há cerca de cinco anos em frente ao shopping Iguatemi, Jennifer Pereira dos Santos tem motivos de sobra para se preocupar. “Com o tempo assim o povo não compra nada! O movimento é quase igual, por que o pessoal que trabalha no shopping tem de vir, mas, as vendas caem e a gente fica sem trabalhar mesmo. A única vantagem é que o material (isopor com refrigerantes e cervejas e caixinha para balas e cigarros) não se perde, por ser fácil de carregar, no entanto, nada é vendido”, diz a vendedora.
A chuva, que já atrapalha, e muito, a vida dos donos de lojas, prejudica ainda mais quem não tem garantias e trabalha por conta própria. “Trabalho há mais de oito anos aqui e sempre é a mesma coisa: começa a chover e não sai mais nada. Quem me salva é o pessoal que trabalha por aqui e compra, por que já estão na área mesmo”, informa o pipoqueiro Hamilton de Almeida Lima, que atua com seu carrinho entre a prefeitura e a Câmara Municipal de Salvador. “Não tem jeito, chove e a gente tem que segurar o prejuízo. Só com o tempo bom que as coisas funcionam direito”, conclui.
Segundo nota postada no site do jornal A Tarde em 21 de maio, uma nova frente fria avança rapidamente pelo litoral da região sudeste do País e a partir desta sexta-feira (22/05) chega à Bahia. De acordo com a informação esta situação ainda pode se estender por mais sete dias.

Sobre presentes e jornalistas

Samuel Wainer, lendário jornalista e dono da “Última Hora”, em seu livro de memórias “Minha razão de viver” relatou como o “incentivo financeiro” dos empreiteiros que ergueram Brasília, no governo JK, havia se tornado um câncer para as administrações posteriores: Jânio Quadros e João Goulart, respectivamente.
De acordo com o relato de Wainer, os empresários exigiam, na base do toma-lá-dá-cá, favores especiais, exercendo acintosamente grande influência política, tanto no congresso nacional, como nos altos escalões dos citados governos. Isso, de cara demonstra a dimensão do perigo exercido por este “poder paralelo”.
Ainda segundo Wainer, estes “obséquios” perduraram ao longo das administrações que pôde acompanhar de perto (entre 1950 e 1964). Vale lembrar que o citado jornalista, por sua vez, foi agraciado com verbas do Banco do Brasil, (certo que se tratava de empréstimo, mas, deveras facilitado) durante o último governo de Getúlio Vargas (1950 - 1954) para erguer seu jornal. Wainer foi o maior (e, por vezes, o único) defensor das ações de Vargas nesse período, e por isso, muito combatido pela grande imprensa.
Gratificação, propina, mala branca ou preta, jabaculê ou jabá. Não importa a terminologia. Trata-se de uma erva - daninha circundando a vida dos profissionais de imprensa. Imagine-se, por pura suposição, trabalhando em uma revista especializada em carros de passeio. Você é convidado a comparecer a um coquetel da citada (onde? Aqui? Não mesmo!) empresa, com objetivo de contemplar seu mais novo lançamento, para, depois, transmitir suas impressões em forma de artigo.
Até aí parece um procedimento corriqueiro. Contudo, se, após ouvir, se é que isto é feito, especialistas em segurança veicular, e estes lhe disserem que o modelo possui dispositivos que podem causar problemas aos futuros donos. Sua função ético-jornalística “impõe” que seu artigo seja acrescido desta informação. Afinal, segundo Natalino Norberto, seu patrão é o leitor.
Entretanto, ainda no nebuloso mundo das especulações, ao confrontar as informações com representantes da empresa, estes lhe ofertam “de todo coração”, um modelo inteiramente grátis, apenas para você desenhar, na matéria, contornos favoráveis à montadora, o que faria? Se optar por seguir uma conduta ética pode evitar que pessoas se machuquem, ou pelo menos advertir, sobre o problema. Do contrário é impossível, como no caso das empreiteiras que não foram as principais responsáveis, mas ajudaram, calcular o resultado.

Trotes dificultam o atendimento no SAMU

Se um dispositivo público não funciona corretamente, cabe à população fiscalizar e cobrar das autoridades, certo? Mas, e quando o próprio cidadão age contra o patrimônio da comunidade, o que é feito? Em que pode resultar este mau uso do aparelho público?
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU – 192) foi implantado no Brasil em 2003. Instalado em Salvador em 2005, desde então lida com numerosos trotes, telefonemas falsos informando urgências inexistentes, que congestionam as linhas e atrapalham o atendimento. Estima-se que, das quase mil ligações diárias para o serviço, cerca de quinhentas sejam trotes.
O código penal brasileiro prevê detenção de um a três anos e multa àqueles que perturbam o serviço telefônico. O SAMU conta, em seu sistema, com identificadores de chamadas para detectar infratores. “Quando começamos, o número de trotes chegou a 85% das ligações. Hoje, isso diminuiu para uma média de 50%”, diz Ivan Paiva, coordenador do serviço.
INFORMAÇÕES NAS ESCOLAS – Segundo a coordenação, a maior parte dos trotes é feita por adolescentes no intervalo das aulas. Paiva informa que estão sendo realizados projetos junto às escolas, a fim de prevenir o excesso de ligações. “Buscamos conscientizar os jovens sobre a real missão do SAMU, formando agentes multiplicadores. Pois, conhecendo nosso objetivo eles passam a auxiliar o serviço em vez de prejudicá-lo”.
Ivan Paiva lembra ainda, que um dos motivos da grande incidência de trotes, no inicio, foi a massiva campanha na televisão. “A massificação agiu de forma contrária, atraindo a curiosidade e ‘incentivando’ a freqüência de ligações falsas”.
De acordo com o coordenador “o trote obstrui parte considerável (cerca de 50%) das linhas, além do problema criado quando enviamos, desnecessariamente, veículos para atender uma chamada falsa, deixando de verificar alguma situação real, o que pode custar a vida de alguém que realmente precise de ajuda. Trabalhamos com o tempo e dispomos de pouco para agir, não somos apenas um serviço de ambulância”, conclui.
PRONTO ATENDIMENTO – Enquanto concluía a reforma de sua casa, o motorista Julio Cesar Barbosa teve a exata noção do que é a necessidade de um serviço de emergência. “Caí de um andaime de 4,3 metros de altura, quando estava rebocando a parede”. Ao despencar, bateu com a cabeça e fraturou a clavícula. “Fiquei ‘encostado’ e só voltei a trabalhar onze meses depois”.
“A triagem das ligações dura, no máximo, quatro minutos”, revela Dinivaldo Figueiredo, atendente do SAMU – 192. O telefonista conta que a meta do serviço é prestar socorro ao acidentado entre 10 e 20 minutos após a ligação. “Claro que os constantes congestionamentos na cidade dificultam nossa ação”.
Outro problema encontrado é o da localização exata do acidente. “Às vezes, nos dão informações incompletas, sem pontos de referência precisos. Isso complica a vida da equipe e prejudica a ação”, explica Figueiredo. É importante que os dados sejam corretos, apesar da urgência e tensão no momento do ocorrido. O que, muitas vezes, não é fácil, pois, geralmente, quem relata o fato é alguém muito próximo a vítima.
Para Julio Barbosa, o tempo de espera excedeu o que é estipulado pelo SAMU. “O socorro não demorou mais que 40 minutos, mas, para quem está imobilizado e sentindo dor, parece que dura uma eternidade”. Julio mora em Dom Avelar, periferia de Salvador. A base do serviço (pontos estratégicos de atendimento que o SAMU mantém nos bairros de Salvador) mais próxima à localidade fica em Cajazeiras, cerca de 10 quilômetros do lugar.
O fato é que o trote constitui um problema real para serviços de urgência. Para Mércia de Souza (nome fictício, aliás, uma praxe no SAMU – 192) “a brincadeira, além de prejudicar o atendimento, compromete vidas. No SAMU, um minuto de atraso pode trazer sérias conseqüências”. O serviço atende 24 horas e dispõe de meios insuficientes para burlar essa prática, que, mesmo diminuída ainda é um entrave ao socorro imediato.

Jornalistas que combatem em outras trincheiras

Quem pensa que o relógio é inimigo apenas do jornalista de redação está enganado. O assessor de imprensa possui prazos iguais ou até mais estritos que os dos seus ‘irmãos em armas’ em atividade nos jornais. Há também certa polêmica ou confusão no que se refere aos profissionais, que, por hora, atuam fora dos periódicos, e, por isso, não são vistos, por alguns, como jornalistas ativos.
Rivaldo Chinem disse em seu livro ‘Assessoria de Imprensa: como fazer’ que o assessor-jornalista “não mudou de ramo, mas, passou apenas para o outro lado do balcão”. O assessor tem a função principal de municiar a mídia com informações de interesse do assessorado e, quando possível, enviar sugestões para a execução de matérias de valor comunitário.
No caso de órgãos oficiais, por exemplo, ocorre também o inverso. “Os jornais costumam nos procurar logo cedo em busca de informações sobre acontecimentos do dia anterior, ou a respeito de medidas que serão tomadas sobre determinado fato. Uma festa popular, como o carnaval, por exemplo”, conta Betânia César, estagiária da assessoria de comunicação da Polícia Civil.
Betânia acrescenta que “às vésperas de finais de semanas e feriados prolongados e, em seguida, nas segundas-feiras, ou quaisquer dias posteriores, há uma ‘avalanche de e-mails’ e muitas ligações por parte da mídia”. Isto, segundo a estagiária, ocorre porque, geralmente, nesses períodos existe maior preocupação com os índices de violência e ações da polícia.
Uma assessoria de imprensa ou comunicação atua levando informações da empresa para a mídia, e, muitas vezes, se colocando à disposição desta para fornecer dados de interesse público. Betânia, porém, informa que há exceções intrigantes. “Na maior parte do tempo somos orientados a oferecer informações que favoreçam o órgão, em detrimento de maiores esclarecimentos”.
“Assessorias e redações precisam estar em contato constante”, afirma a jornalista Carmen Vasconcelos, que também já atuou como assessora. Ela ressalta que cabe ao profissional de assessoria filtrar as informações que saem da empresa para a mídia. “Isso facilita a relação de contrapartida com os jornais e, praticamente, assegura a projeção do assessorado e consolida sua credibilidade com a opinião pública”, afirma Rivaldo Chinem.
Parceira das assessorias e atuante em atividades que dependem desse trabalho, a apresentadora e jornalista Rita Batista narra sua experiência. “Tenho uma relação bastante amistosa com a maioria das assessorias de imprensa oficiais, e com os assessores particulares. Tem algumas pessoas que são péssimos profissionais, não dão resposta, não ligam, desmarcam em cima da hora, mas nada que atrapalhe o andamento dos trabalhos, pois a minha facilidade com outros assessores me permite pedir um ‘help’ de última hora.
E sempre faço referência à parceria com o assessor, ao vivo, no ar. E quando é ruim, a mesma coisa. Mas faço a crítica muito educadamente, até seu chefe ficar sabendo!”.
Hoje, o maior empregador de jornalistas no Brasil são as assessorias. Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) afirma, em entrevista cedida ao site ‘Católica Digital’, pertencente à Universidade Católica de Goiás, que “cerca de 20 mil profissionais atuam em assessorias em todo o país”.
Salvador oferece poucas alternativas para os jovens jornalistas. Assim, assessorias são o ‘porto seguro’ dos profissionais que, por falta de recursos técnicos, ou ‘excesso de contingente’ não conseguiram o sonhado cargo nas redações de jornais, que, por sinal, a cada dia tornam-se mais enxuta. O Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) não dispõe de dados concretos e sequer de uma estimativa do número de jornalistas-assessores em atividade no estado da Bahia.
Segundo Chinem, há quem afirme que o jornalista-assessor perde suas características ao passar ‘para o outro lado’, mas, para o jornalista e professor Luís Guilherme Pontes Tavares, muda-se o campo de jogo, mas a essência e o comprometimento social são os mesmos: “Alinho-me entre os que defendem a possibilidade de permanecer jornalista ainda que no exercício de assessor de imprensa. Portanto, colocado o bom senso em primeiro lugar, é possível atuar sem sacrificar o compromisso com a verdade e permanecendo no exercício de uma função que é pública, transparente, como é a função do jornalista”.
Para Luís Guilherme, o assessor de imprensa deve oferecer todas as condições para o repórter cumprir a pauta que recebeu. “Se não for possível caminhar nesse sentido, cabe ao assessor de imprensa delegar o atendimento a outro profissional da comunicação, a exemplo do Relações Públicas. O tema tem muitas facetas e não nos cabe reduzi-lo a algo muito simples, porque ele não é tão simples como desejamos”, conclui o jornalista.

Quem não tem teto de vidro...

Para não perder o mote pascoal, considero imprescindível discutir a questão difamatória sob uma ótica factual da vida de certa mulher. Nos três derradeiros e mais decantados anos da vida de Jesus de Nazaré, uma personagem, em especial, tem gerado polêmica por séculos: Maria de Magdala, ou, Maria Madalena. O que se sabe a respeito?
Ora, por séculos, a igreja católica difundiu a idéia de que se tratava de uma prostituta, ou, por alguns momentos, uma adúltera. Historiadores afirmam que esta mulher foi de extrema importância durante o ministério de Jesus. Outros até radicalizam. Apostam categoricamente que Madalena fora esposa de Jesus, contrariando a visão que conhecemos do cristianismo e deixando a todos com “a pulga atrás da orelha”.
O fato é que, por séculos, esta mulher foi tratada pelo mundo cristão como “a pecadora”, e hoje, a própria difusora da informação tenta rever seu erro histórico. Vale lembrar que, a mulher tem sido reprimida pelos cultos cristãos por toda a história do cristianismo. Algo que não se percebe na maioria das seitas pagãs européias, onde estas eram cultuadas como provedoras da vida.
A história da humanidade nos presenteia com diversas histórias de mulheres reprimidas por sua condição feminina. Ora, o que aborrecia Otávio quando resolveu mandar suas tropas contra Cleópatra senão o incomodo de ser contrariado por uma mulher? O que dizer dos franceses, que, durante a guerra dos cem anos, após combater com Joana D’arc, que disfarçada de homem provara ser um valoroso soldado, optaram por queimá-la?
Assim o foi com Maria de Magdala. Há textos apócrifos que lhe são atribuídos, e relatos históricos que já afirmam sua posição de relevância frente aos apóstolos. Mas, o que ganhariam as igrejas ocultando a importância desta mulher e relegando-a ao incômodo posto de pecadora? Há nesta ação alguma tentativa de preservar riquezas ou apenas um motivo a mais para subjugar as mulheres já tão reprimidas no mundo ocidental?
Para o Houaiss, difamação significa imputação ofensiva de fato(s) que atenta(m) contra a honra e a reputação de alguém, com a intenção de torná-lo passível de descrédito na opinião pública. Para Maria, talvez, após séculos de obscuridade, e de versões aplicadas à sua imagem, tenha chegado a hora da redenção. Não na forma de fé religiosa, mas com a libertação da mulher dos gradis impostos por seus semelhantes do pólo oposto. O melhor remédio contra ataques à honra e à imagem de alguém é o combate no campo da idéias. O acusador tende a cair em contradição, mesmo que o tempo passe e as pessoas finjam esquecer.

Observações sobre um jornal que, investindo na tradição e dando voz aos leitores, redescobre caminhos para comunicar e vender

“Inovar pode também pressupor investir na simplicidade”

Um jornal precisa sobreviver, e, para tanto, é imperativo ter, além de competência idoneidade e conteúdo, algum apelo comercial. Aprofundar questões relevantes e ter capacidade para abordar assuntos suaves, quando necessário, juntamente com um bom projeto gráfico, a ousadia de arriscar e a destreza para captar recursos, são os componentes que o auxiliam a comunicar e vender harmoniosamente.
Durante o carnaval de 2009, A TARDE apostou no diferencial e ousou. A concepção gráfica baseou-se no tema da festa deste ano, em Salvador: o afoxé Filhos de Gandhy. A referência foi exposta em forma de ilustrações do mais conhecido símbolo da entidade – o colar de contas brancas e azuis.
Os desenhos da peça circundavam as páginas das edições dos dois primeiros cadernos, que, fugindo da seriedade habitual e, mesclando cores variadas com o tradicional bicolorido (preto e branco), levou a festa ao leitor. Com isso, ficou um passo à frente da concorrência, o que deve ter resultado em boas respostas no setor comercial.
As fotografias das edições neste período buscavam transportar o ambiente carnavalesco para o sofá da sala de estar dos leitores. Diferente de imagens de flagrantes escandalosos, ou divulgando ações governamentais, os cadernos priorizaram o que já era difícil de retirar da cabeça dos baianos. Querendo ou não, amando ou odiando o carnaval, desprezar sua presença seria impossível. O jornal se propôs a mostrar o óbvio por diferentes ângulos.
No decorrer do delírio momesco, todo primeiro caderno se ocupou da festa. É preciso ressaltar a audácia do jornal em mudar o foco das reportagens, colocando, a cada dia, um repórter diferente em situações peculiares, aclimatando-o aos festejos, contando, de maneira particular, “seu dia no carnaval”.
Foi uma decisão acertada. Este tipo de ação aproxima o veículo do consumidor de notícias, e deixa de lado aquela sensação de que a informação é algo que deve ser passado com frieza. Ações assim também conseguem traduzir o “real” da festa. A sensação que a notícia habitual tenta transmitir, mas, que, pelo caráter às vezes sisudo de sua confecção, se torna mais difícil.
Outro aspecto que foge radicalmente do costumeiro, até por que não caberia em um sistema usual de difusão de informações, é a seção “Diário do rei”, que, através de comentários enviados pelo próprio Rei Momo, nesta temporada, o cantor Gerônimo, narrava ao leitor as peripécias que envolviam o cotidiano de “Sua Majestade”.
Os “fatos sérios” e outras notícias que fugiam à temática foram relegados a outros cadernos. Compreensível, sob uma visão comercial. Ora, conceder menor atenção ao espetáculo em uma cidade que, por onze meses, aguarda ansiosa este acontecimento, e que, consegue vivê-la já um mês antes, seria cometer suicídio mercadológico. Não seria coerente estampar manchetes sobre crimes ou uma nova alta nas taxas de juros nesta ocasião.
Maior contemplado nas edições, o leitor ganhou, além dos habituais espaços de cartas que, diariamente, lhe é conferido, novos meios de expressar suas impressões sobre a festa. A seção “deixa que eu conto” se iniciava convidando: o importante é participar e, sem sair da condição de folião, contar o que acontece no circuito. Habilmente o jornal traz o leitor para perto. Cria maior intimidade. O cidadão se descobre parte ativa do veículo, confia nele, portanto, mantém a fidelidade e, ainda, o divulga.
O jornal habitual traz textos longos, que descrevem os fatos com minúcia. Segue dogmaticamente as regras dos manuais das redações. No entanto, neste período festivo, A TARDE se permitiu usar textos opinativos, tendo a celebração como objeto principal. O jornal buscou “ouvir a rua”, ou seja, o leitor.
É preciso salientar que, em uma festividade de tamanhas proporções, as pessoas não vão para casa, às seis da manhã, preocupadas em se enveredar por textos de grandes dimensões contando, detalhadamente, fatos novos sobre a crise econômica. Desejam algo mais leve para digerir. Não descartam, evidentemente, notícias sérias, contanto que estas cheguem de forma simplificada.
Os títulos seguem a “temática da alegria”. Enquanto, nos “dias comuns”, são diretos, frios, circunspectos, no carnaval foram utilizados com caráter lúdico, aludindo sempre às referências da festa. Isso facilita a recepção por parte do consumidor e pelos anunciantes, que buscam, até e inclusive, em um jornal, o que de melhor esta festa pode oferecer. Demonstrando que, acima de tudo, mesmo partindo de um veículo tradicional, inovar pode também pressupor investir na simplicidade, para, ao mesmo tempo, vender e comunicar.