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O que fazer com o lixo tecnológico

Por Carlos Eduardo Santos


“Brasileira, artista plástica e artesã, disposta a colaborar com o meio ambiente, há seis anos trabalho com o lixo disponível e abundante no planeta”. Assim a artista Naná Hayne se define na internet, em sua página-loja “Vem do Lixo”, onde negocia acessórios de moda e até obras de arte. Tudo construído com matéria-prima inusitada, o lixo tecnológico (restos de aparelhos eletrônicos como, computadores, celulares, televisores e copiadoras). Tudo aquilo que você, cidadão comum, joga fora sem ao menos se perguntar “o que mais posso fazer com esse... lixo?”.
Segundo Ana Vieira, assessora de planejamento da Limpurb (empresa de limpeza urbana de Salvador), todos os dias são despejados cerca de 2,500 toneladas de resíduos sólidos (lixo comum) em Salvador.
Em um mês, esse número cresce para mais de 64,900. Não há dados concretos sobre o volume total dos materiais orgânicos, como restos de madeira resultado das podas de árvores.
Salvador, como as demais metrópoles brasileiras, vive o dilema entre crescer tecnologicamente e preservar o meio ambiente. Em tempos de reciclagem e boa conduta sócio-ambiental, o planeta é bombardeado com cerca de 50 milhões de toneladas de lixo tecnológico por ano. Ainda não se têm relatos, no Brasil, de entidades públicas responsáveis por esse setor.
Juliano Matos, Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) disse, em entrevista ao jornal A TARDE (5.7.2007), que “uma tonelada de placas de circuito interno de computador tem 17 vezes mais ouro que a encontrada nos garimpos em uma tonelada de material recolhido”. O Estado possui, no máximo, um setor de educação ambiental, vinculado à SEMARH.
Assessor assistente da Superintendência Municipal do Meio Ambiente (SMA), o engenheiro, Evandro Balalai informa que existe solicitação para a execução de um relatório a respeito. Mas, há também muita burocracia envolvida. O sistema no município - o setor de meio ambiente - ainda está em implantação. O assessor técnico do órgão, Adalberto Bulhões, não se pronunciou a respeito.
O lixo eletrônico, além do transtorno óbvio de se acumular como entulho, pode trazer problemas sérios à saúde, pois nos materiais descartados, mesmo em pequenas quantidades, existem metais pesados altamente tóxicos como mercúrio, cádmio, e chumbo, que, em contato com o solo, o ar ou a pele podem causar danos terríveis.
A iniciativa de Naná Hayne, junto com projetos no setor de robótica do Centro de Processamento de Dados (CPD) da UFBA (Universidade Federal da Bahia), são caminhos possíveis e renovam as esperanças para a situação brasileira, já que não existe legislação a respeito. O que há é um documento assinado na Convenção de Basiléia, em 1989, na qual 120 nações, incluindo o Brasil, e diversas Ongs se propuseram a regular a circulação de resíduos originados de lixo eletrônico em suas fronteiras.
“Como nosso aterro não trabalha com esse tipo de lixo como destino final, no bairro de Nazaré, centro de Salvador, Joseval e Joandro Araújo, dois irmãos, catadores desse material, atuam em parceria com a Limpurb, fazendo a coleta seletiva e repassando para reciclagem”, informa Ana Vieira.
A coleta dos irmãos Araújo pode ser agendada e eles recolhem o material em Salvador e região metropolitana. De acordo com Joandro Araújo, a Limpurb funciona como um canal de divulgação do trabalho e cede um documento (Manifesto de Resíduos) para entregar ao ‘doador do lixo’, assegurando que o material foi descartado corretamente. Depois de feita a seleta, o material é enviado para empresas de reciclagem.
“Realizamos um trabalho pioneiro, não somos vinculados à Ongs, no entanto, contribuímos no processo de conscientização ambiental, sendo, inclusive convidados para realizar palestras nesse sentido”, comenta Joseval Araújo, esclarecendo que “os equipamentos em funcionamento são doados a instituições necessitadas, o ferro é vendido para custear nosso transporte”. Vale lembrar que eles agem por conta própria.
O destino das placas de computador é diferente. “Como aqui em Salvador não existe uma empresa especializada nesse tipo de serviço, o material é repassado para firmas como a Lorene de São Paulo, onde é dado um destino final, a reciclagem”. “O importante é que esse material seja rapidamente reciclado, sem o risco de voltar ao meio ambiente e causar danos à natureza e a nossa saúde”, alerta Joseval.

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