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Óleo de cozinha pode virar biocombustível

Por Carlos Eduardo Santos

Quando está comendo batatinha frita, pastel ou acarajé, você já parou, entre a mordida e o guardanapo, para pensar se está dando o destino correto ao óleo utilizado para torná-los tão crocantes? Algumas pessoas já pensam nisso, gente como o engenheiro químico Luciano Hocevar que pesquisa as possibilidades de reciclagem deste material e peregrina pela cidade coletando o resíduo que ainda é jogado indiscriminadamente no solo e nos encanamentos das casas.
“Meu interesse por reciclagem de óleo surgiu da constatação de que ela já era utilizada, em outros estados, como matéria-prima para muitos produtos. Pesquisando sobre o assunto vi que na Bahia, o óleo ainda era desperdiçado, então percebi que poderia contribuir para mudar este quadro de desperdício”, diz o engenheiro, que salienta: “Quando o óleo vegetal é despejado em um curso d´água, pode consumir seu oxigênio e comprometer as condições que permitem a vida naquele local”.
A dona de casa Marildeth Alves diz que ainda joga o óleo usado no ralo e no lixo. “Já ouvi falar da reciclagem, mas não sei como nem para quem repassar o material”, diz. Para o “baiano de acarajé” Davi Souza, a situação é idêntica. “Despejo no mato, pois não tenho informações sobre nenhum lugar para descartar o azeite, e a quantidade diária é considerável, vou guardá-lo em casa até aparecer alguém?”, questiona.
O óleo, quando descartado indiscriminadamente causa danos à natureza. Despejado nas pias entope o encanamento. “Chegando aos rios, além de prejudicar a fauna, impermeabiliza o solo, facilitando o risco de enchentes, ou se decompõe na natureza, liberando metano, que produz mau cheiro e gás carbônico, agravando o aquecimento global”, explica Alexandre D’Avignon, professor do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da (UFRJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Em outubro de 2007, a Assembléia Legislativa da Bahia recebeu o projeto de lei Nº. 16.828/2007, que pretende criar o Programa Estadual de Incentivo à Reciclagem de Óleo de Uso Culinário. Tendo por objetivos, sobretudo, a preservação do meio ambiente, o incentivo ao consumo consciente e à coleta seletiva, além da elaboração de produtos a partir do material reciclado. Desenvolvendo a economia e gerando novos empregos, facilitando a inclusão social.
“O projeto ainda não foi aprovado por estar na fila de espera e necessitar de uma série de procedimentos e articulações até ser votado e aprovado pelo governador”, esclarece Emanuel Mendonça, assessor do deputado Nelson Leal (PTB), que complementa: “a principal medida está no processo de re-educação e conscientização da população, a divulgação de marcas com ‘selos verdes’ e responsabilidade sócio-ambiental”.
Segundo Luciano Hocevar, muitos produtos podem ser fabricados a partir de qualquer resíduo de óleo ou gordura, novo ou usado “Sempre se fez sabão com restos de sebo, por exemplo, e massa de vidraceiro, com restos de óleo”. Podem ser citadas ainda resinas para tintas à base de óleo, e, mais recentemente, o interesse pelo biodiesel, que tem viabilidade técnica comprovada, mas que ainda depende de viabilidade econômica para se firmar.
Três mini-usinas começaram a produzir 100 mil litros de combustível, desenvolvido a partir do óleo de cozinha, por mês em Sorocaba/SP. De acordo com o engenheiro paranaense Rodrigo Martins da Silva, da Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Extensão da Unisul (Faepesul), esse combustível vai beneficiar o meio ambiente, pois óleos de cozinha não vão mais ser jogados nos mananciais.
A visão de que a reciclagem é algo bom para todos tem crescido de alguns anos para cá. “A população ainda precisa se dar conta de que pode resolver sozinha problemas como esse, afirma Hocevar. “Temos que nos conscientizar que, ao comprarmos um produto, pagaremos pelo custo de seu resíduo”, diz o engenheiro. Jogar fora materiais que podem ser reciclados é desperdiçar matérias primas e diminuir o acesso das futuras gerações aos recursos naturais cada vez mais escassos.
“É importante esclarecer a população que o óleo vegetal usado não é um vilão, mas pode ser descartado de maneira adequada. Se for jogado no esgoto, entupindo a tubulação, será necessário desobstruir depois, com um custo maior”, comenta Luciano Hocevar, que encerra: “Os efeitos de tubulações obstruídas podem ser observados em qualquer chuva que ocorre em Salvador, com alagamentos e canais que transbordam. Todos são atingidos por algo que pode ser evitado com uma atitude simples e sem custo”, finaliza.

Comments :

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Anônimo disse...
on 

Muito legal o texto, mas deixe claro que além da reciclgem do óleo de cozinha , não podemos esquecer da utlizar conscientemente materiais que possam prejudicar a natureza, bem como, o que somos especialistas em produzir o LIXO. A utilização sustentável, desde o momento da geração dos resíduos, a maximização de seu reaproveitamento e reciclagem, até a destinação final e muito preocupante para as cidades e principalmente para a sociedade.

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