e com a palavra...

O Preço de uma verdade (Shattered Glass)Resenha crítica

“No mundo, o pior é o tédio, único pecado sem perdão!” (Oscar Wilde).

postado por: Carlos Eduardo


Billy Ray é um diretor-roteirista que afirma sentir atração especial por histórias de decepção (www.epipoca.com.br, 2007). Profissional metódico. Acredita que por trás de uma boa história, se esconde um longo trabalho de pesquisa. Ray assina os roteiros de “Quebra de confiança”, 2007(o qual também dirige); “Plano de Vôo”, 2005; “Suspeito Zero”, 2004 e “O Preço de Uma Verdade”, 2003.
Stephen Glass (Hayden Christensen – Star Wars, Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith), um jovem redator da revista norte-americana “The New Republic”, consegue rápida notoriedade publicando artigos de temática aparentemente banal, contudo, bem escritos. Glass, no entanto, tem por hábito apresentar histórias fantásticas sem consultar a consistência das informações.
Seus problemas começam quando a revista “Forbes Digital” contesta um artigo seu. A partir daí, o que se vê é o rapaz lutando sem sucesso para provar sua inocência. Billy Ray propõe uma reflexão sobre a “verdade midiática”, direcionando os holofotes para a necessidade de uma análise minuciosa das informações da mídia, pois tropeços dessa ordem abalam a imagem de uma classe inteira.
O filme (pelo menos no que se refere à Glass) é um manual do anti-jornalismo. Uma aula de como não fazer. Ele mostrou-se hábil escritor e péssimo repórter. Fez tudo ao contrário. Inventou fatos e fontes. E, se os possuía, optou por não conferir a veracidade do que tinha em mãos. Deixou-se corromper pela íntima sensação de poder que adquiria sempre que um artigo seu era publicado. A vaidade constitui um risco para profissionais em qualquer atividade. Para o jornalista é um veneno. O pior deles.
A trajetória de Glass suscita indagações que trazem a lembrança de um trecho do evangelho segundo Marcos 8:36, “que lucro teria um homem ao conquistar o mundo inteiro se isso lhe custasse a própria alma?” Embora radical, a citação do evangelista se aplica ao caso. E o “mundo inteiro” não é um exagero.
Hoje, a mídia, erroneamente, é associada à verdade absoluta (a partir do séc. XX, as pessoas trocaram aos poucos a igreja pela televisão, pois esta detém, para elas, “a verdade incontestável”, e exerce igual ou maior influência). O rapaz, portanto, tinha sua fração de mundo. Cabia a ele utilizar este espaço de forma inteligente. A alma do jornalista é o seu nome. Quando decidiu falsear seus textos, optou também por colocar sua credibilidade em xeque. E é claro, seu rei caiu.
É possível que Glass tenha realmente acreditado na “verdade” em seus artigos. Que sua capacidade persuasiva - seu carisma, e a qualidade de sua redação o manteriam incólume (como ocorreu por algum tempo). Mas, o jornalismo não se fundamenta em suposições. Tampouco se alimenta de meias verdades. Menos ainda, de histórias fantásticas sem respaldo.
Cabe neste e em outros casos, o que ensinam e suplicam os teóricos e os professores de comunicação – apurem, filtrem, chequem tudo, até não restar dúvida alguma! Glass não é um caso isolado. Basta procurar um pouco. Não será difícil, infelizmente, encontrar outros. Uma ressalva redundante é necessária: jornalismo trabalha com base em fatos – o resto é literatura.