e com a palavra...

Paraíso Artificial

Carlos Eduardo Santos

Como é surpreendente a fé do povo brasileiro! O baiano, em especial. Hoje mesmo, ao passar em frente a uma casa lotérica qualquer de Salvador, notei uma enorme fila que ali se formava para a realização de apostas. Loteria Federal acumulada, prêmio bom. Nesses dias não é difícil encontrar um cambista sorrateiro negociando até vaga de idoso. O baiano acorda cedo, dá um bico de vez na alcunha infundada imposta pelo “sul maravilha”, herdada dos tempos coloniais (nos chamam de preguiçosos, imaginem!), e vai ás ruas por uma causa nobre: fazer sua “fezinha”.
Isso me faz lembrar as correntes de orações em prol de celebridades moribundas, ou para algum famoso desaparecido. Quando seqüestram a mãe de algum deles então, já é o Benedito! O brasileiro não perde uma. Esse povo tem fé! Seja no seu time meia-boca que deixa seu coração mais combalido ainda, ou na desgraça do vizinho que teima em se dar bem antes dele, o brasileiro crê na união – se ele está “na pior” por que o danado do camarada quer impor esta diferença social? É preciso respeitar a concorrência! Isso aqui por um acaso é Wall Street?
É preciso crer em algo. Acreditar é um item de fábrica do brasileiro. Não saímos da linha de montagem sem esta peça subjetiva. Dizem por aí que somos desacreditados, que temos baixa auto-estima, carapuça descarada que tentam nos empurrar goela abaixo, perdão, cabeça abaixo. Who the cap fit? Ousou questionar aquele notável rastafari jamaicano que tanto já mexeu com a cabeça (ou fez a cabeça?) dos brasileiros, principalmente aqui, na casa de Nóca, onde, todo pôr-do-sol é regado à água de coco, uma bossa em Ré menor, e, para alguns, paraísos artificiais. Que o ministério público não nos ouça.

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